Título: Aliado de Renan é acusado de sonegação
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 03/10/2007, O País, p. 3

Entidade presidida por Salgado descontou IR de funcionários, mas não repassou ao Fisco.

BRASÍLIA. Fiel escudeiro do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o senador Wellington Salgado (PMDB-MG) terá que dividir seu tempo, daqui em diante, entre a defesa do aliado e a sua própria. Desde segunda-feira, o senador, que dias atrás se auto-intitulou um "franciscano" do Congresso, responde a inquérito criminal no Supremo Tribunal Federal (STF) pela suspeita de ter sonegado R$4,1 milhões de Imposto de Renda no período em que esteve à frente da Associação Salgado de Oliveira de Educação e Cultura (Asoec).

A entidade, que era presidida por Wellington Salgado até sua chegada ao Senado, controla um império de universidades particulares. A Universo, como é conhecida, tem unidades instaladas em 11 cidades do país.

Total devido por entidade pode chegar a R$4,1 milhões

De acordo com investigação feita pela Receita Federal, a Asoec descontou o imposto ao pagar seus funcionários e prestadores de serviços, mas não o repassou - ou, em alguns casos, repassou em parte - ao Fisco. A Receita cobra judicialmente o imposto devido, além de multas e juros.

Segundo o Ministério Público Federal, o imposto foi sonegado pela associação entre março de 2003 e dezembro de 2005. O total devido pode superar os R$4,1 milhões, já que esse valor refere-se ao que foi apurado até abril de 2006. A ministra do STF Cármem Lúcia Antunes, que determinou a abertura do inquérito, também ordenou que a Receita faça a atualização do débito. Salgado e mais quatro parentes - todos com cargos de comando na Universo - são suspeitos de terem cometido crime contra a ordem tributária.

Salgado presidiu a Asoec até julho de 2005, quando se licenciou para assumir a vaga no Senado como suplente de Hélio Costa (PMDB-MG), nomeado ministro das Comunicações. O senador não respondeu ao recado deixado pelo GLOBO em sua caixa postal. Por meio de sua assessoria, informou que atualmente não tem vínculo com a universidade. O atual presidente da Asoec, seu irmão Jefferson Salgado de Oliveira, também investigado, não quis comentar as acusações.

Além de Wellington e Jefferson Salgado, são investigados outro irmão deles, Wallace Salgado de Oliveira (pró-reitor Administrativo), e seus pais, Joaquim de Oliveira (chanceler da Universo) e Marlene Salgado de Oliveira (reitora). Eles podem ser condenados de seis meses a dois anos de detenção, além do pagamento de multa de duas a cinco vezes o valor sonegado. As investigações ficarão a cargo do Ministério Público Federal.

Inquérito foi transferido para o STF após a posse de senador

Parte da investigação já foi realizada pela Polícia Federal em Niterói, onde funciona a sede da Asoec. O inquérito chegou à Justiça Federal de São Gonçalo, mas ao tomar conhecimento da posse de Salgado, que passou assim a ter foro privilegiado, o juiz titular da 2ª Vara Federal do município transferiu o caso para o Supremo, que determinou a abertura de inquérito.

A Universo teve origem em uma pequena escola em São Gonçalo, na década de 70. Em 1976, foram abertos os primeiros cursos superiores. A instituição expandiu-se para Niterói e, a partir de 1996, para fora do estado. Hoje, tem unidades na cidade do Rio, em Campos, Juiz de Fora, Belo Horizonte, Osasco, Goiânia, Brasília, Recife e Salvador.