Título: Além da Cisco, Receita investiga atuação de 13 grandes empresas
Autor: Carvalho, Jailton de e Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 17/10/2007, Economia, p. 28

OPERAÇÃO PERSONA: Nomes de envolvidas em fraude são mantidos sob sigilo.

Companhias suspeitas apareceram na Operação Dilúvio, do ano passado.

BRASÍLIA, SÃO PAULO e NOVA YORK. A Cisco do Brasil está no centro das investigações sobre o esquema de importações ilegais desbaratado pela Operação Persona, mas não é a única grande empresa em apuros por fraudes fiscais. A Receita Federal está investigando o envolvimento de mais 13 grandes empresas que também teriam recorrido a fraudes para importar mercadorias a preços mais baixos e derrubar os concorrentes internos. As investigações tiveram início há um ano, a partir da Operação Dilúvio, outra ação conjunta da Polícia Federal (PF) e do Fisco.

- Isso aqui é só o resultado da investigação sobre uma empresa. Outras 13, que apareceram na Operação Dilúvio, também estão sendo investigadas. Também usaram um esquema - informou um dirigente da Receita à PF.

O nome dessas empresas, mantidos sob sigilo, surgiu entre os papéis das importadoras fisgadas na Operação Dilúvio, em agosto do ano passado. Na Dilúvio, até então a maior investigação sobre fraudes no comércio exterior, a PF e a Receita desmontaram uma rede de importação acusada de desviar R$500 milhões somente em sonegação de impostos. O grupo, supostamente chefiado pelo empresário Marcos Antônio Mansur, subfaturava importações.

A organização também foi acusada de recorrer a laranjas e offshores, entre outros expedientes, para camuflar as irregularidades e mandar dinheiro para o exterior. No início, a PF e a Receita apontaram o envolvimento de 102 pessoas e 24 empresas. No decorrer da apuração, a Receita descobriu indícios de que mais 14 grandes empresas teriam recorrido a esquemas similares. A investigação contra a Cisco foi mais célere e resultou na Operação Persona.

Ex-funcionário denunciou esquema à Receita

As suspeitas da Receita foram reforçadas pelas denúncias que um ex-funcionário da Cisco fez à PF.

- Houve um encontro entre os trabalhos da PF e da Receita Federal, e o resultado é este que estamos vendo aqui - afirmou o coordenador geral de Pesquisa e Investigação da Receita, Gerson Schaan.

A Cisco do Brasil é uma das empresas parceiras do Ministério das Comunicações no projeto Tiradentes Digital, que implantou uma uma rede sem fio de alta velocidade (banda larga) para acesso à internet. O projeto funciona na cidade histórica de Minas Gerais e começou em março de 2006.

A ação da PF foi batizada de Persona em referência ao desmascaramento das verdadeiras empresas envolvidas nas importações ilegais de itens de informática dos EUA. A fraude, segundo a polícia, consistia na camuflagem das compras internacionais feitas pela Cisco com a ajuda da Mude, distribuidora de produtos de informática. O nome inicial da operação era Mudança, menção à Mude, que teria papel central no esquema.

- A máscara caiu - afirmou a delegada da PF Érika Tatiana Nogueira.

Devido à complexidade do esquema, a PF dividiu os investigados em grupos. Os primeiros 20 foram chamados de chefes; os do segundo nível, de gerentes; já os de terceiro nível receberam o nome de colaboradores. Entre os chefes estão representantes legais da Cisco do Brasil, como Pedro Ripper.

- Além dos fortes indícios de suas participações nos delitos, seu grau de influência na atuação da quadrilha certamente poderá atrapalhar ou atravancar a continuidade da investigação. Portanto, a prisão temporária é cabível a todos os investigados desse grupo - disse o juiz Alexandre Cassetari, da 4ª Vara Federal Criminal de São Paulo, que expediu os mandados de prisão, busca e apreensão.

Desde 2005, empresas aperfeiçoaram esquemas

No grupo dos gerentes (administradores ou gerentes das empresas), o juiz determinou a prisão de dez envolvidos. Dos 32 pedidos de prisão dos colaboradores - laranjas, funcionários, fiscais da Receita, despachantes aduaneiros, advogados e o ex-presidente da Cisco Rafael Steinhauser -, só 14 foram decretados: seis funcionários, os três despachantes, os quatro fiscais e Steinhauser, que, segundo o juiz, participava das atividades diárias da Cisco e da Mude.

A operação de maior repercussão da PF foi a Narciso, que, em julho de 2005, resultou na prisão de Eliana Tranchesi, sócia da Daslu, maior loja de artigos de luxo do país. O aperto da polícia não refreou as irregularidades. Para a Receita, desde então, algumas grandes empresas só tentaram aperfeiçoar seus esquema fraudulentos.

- O esquema descoberto na Operação Persona mostra que houve um aperfeiçoamento das fraudes em relação à Operação Dilúvio, que já era um avanço em relação às fraudes apuradas na Operação Narciso - disse Schaan.

As ações da Cisco Systems fecharam ontem em queda de 1,52% na bolsa Nasdaq, mas não como reflexo da operação. Além da queda dos mercados, pesaram os rumores sobre a compra da Navini Networks pela Cisco.

(*) Com agências internacionais