Título: Líderes sindicais já tomam conta do Senado
Autor: Lima, Maria
Fonte: O Globo, 01/11/2007, O País, p. 5

Sindicalistas pressionam parlamentares a derrubar fim da contribuição obrigatória e ameaçam com tumulto hoje.

BRASÍLIA. O Senado está a um passo de derrubar o fim da obrigatoriedade da contribuição sindical, aprovado na Câmara na votação do projeto que legaliza as centrais sindicais. O lobby dos sindicalistas, que pressionam abertamente os senadores com o apoio do governo, tem conseguido convencer parlamentares governistas e de oposição.

Em miniassembléias realizadas ontem em gabinetes e auditórios do Senado, cerca de cem líderes sindicais, comandados pelo deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho, presidente da Força Sindical, pediram a derrubada das emendas que tornam a contribuição facultativa e permitem ao Tribunal de Contas da União (TCU) fiscalizar os sindicatos. Os sindicalistas esperam convencer o relator, senador Paulo Paim (PT-SP), durante o embate que acontecerá hoje na audiência pública da Comissão de Assuntos Sociais (CAS).

Depois da audiência, ainda haverá votação na CAS, na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) e no plenário do Senado. A previsão é que a votação seja concluída este mês.

Centrais dizem que vão lotar auditório com 600 sindicalistas

O debate, previsto anteriormente para o plenário da CAS, teve de ser transferido para o Auditório Petrônio Portela, com capacidade para cerca de 500 pessoas. As centrais sindicais prometem lotar o lugar, com a mobilização de 600 sindicalistas.

Pelos apoios recebidos publicamente ontem, será difícil manter o fim da contribuição obrigatória e a fiscalização do TCU. Também está ameaçada a emenda apresentada ontem pelo senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), que amplia o fim da obrigatoriedade do imposto sindical para a classe patronal, e não apenas para os sindicatos de trabalhadores, como foi aprovado na Câmara.

- O setor sindical tem que mostrar serviço para convencer os trabalhadores a contribuírem voluntariamente. Só os sindicatos que realmente são atuantes na defesa dos trabalhadores vão se fortalecer. Hoje, somente 14% dos trabalhadores são sindicalizados, mas uma minoria, ou a maioria da minoria, é quem decide por eles. Essa representação é irreal - disse Flexa.

A reação dos sindicalistas foi imediata.

- A emenda do Flexa vai arrumar mais encrenca ainda. Vai unir trabalhadores e empresários contra ele. Se acabarem as federações e confederações patronais, quem vai defender os interesses do setor produtivo aqui no Congresso? Quem vai defender a empresinha? Vamos derrubar as duas emendas da Câmara e impedir que a do Flexa seja aceita - afirmou o deputado Paulinho.

Os sindicalistas lobistas lotaram os corredores do Senado e passaram por vários gabinetes, incluindo os de Marcelo Crivella (PRB-RJ), Jefferson Peres (PDT-AM) e José Sarney (PMDB-AP). O encontro com os tucanos Sérgio Guerra (PE) e Papaléo Paes (RR) teve de ser realizado no plenário 7 das comissões. Paulinho argumentou com eles que a aprovação da contribuição facultativa foi um voto errado dos deputados, que, envolvidos com o jogo do Brasil e Colômbia, não sabiam direito o que estavam aprovando.

"O cara que ficar contra lá está morto!"

Paulinho disse ainda que, no acordo fechado com o governo, conseguiram até a proeza de fazer a CUT defender o imposto sindical.

- Vocês sabem que as centrais têm gente de todos os partidos. Se a contribuição cair, isso destrói todos os sindicatos rurais e as confederações. Se isso acontecer, quebra a espinha dorsal do movimento sindical - disse Paulinho aos senadores tucanos.

A resposta foi a que os sindicalistas esperavam ouvir.

- O PSDB tem interesse e simpatia pela proposta - disse Sérgio Guerra, sendo aplaudido, juntamente com Papaléo, que fez um discurso inflamado em defesa da derrubada da mudança.

Antes, Sérgio Guerra quis saber o que aconteceria com a emenda do líder do PSDB na Câmara, Antonio Carlos Pannunzio, que instituiu a fiscalização pelo TCU. Paulinho disse que estava propondo a criação de um Conselho Nacional do Trabalho, composto por trabalhadores, empresários e governo para fiscalizar. Guerra gostou.

- Os tribunais não fiscalizam sindicatos nem em Cuba nem na China - disse o deputado e líder sindical.

Paulinho então convidou os dois a comparecerem à audiência pública hoje no Auditório Petrônio Portela. Papaléo disse que viajaria. Guerra prevê o confronto:

- O cara que ficar contra lá está morto!

Carvalho: "Serão 20 defendendo o dinheirinho"

Autor da emenda que acaba com a contribuição obrigatória, o deputado Augusto Carvalho (PPS-DF) procurou o relator Paulo Paim para pedir equilíbrio no debate, e que ele convidasse pesquisadores e estudiosos do assunto para fazer o contraponto com os mais de 600 sindicalistas esperados hoje. Além dele, só o líder Pannunzio deve comparecer para defender a mudança, num ambiente hostil.

- Avisei ao Paim que não contrataria claque para me defender. Mas vou lá defender meu ponto de vista. Seremos eu e o Panunzio e 20 do outro lado defendendo a gordura, o dinheirinho - disse Augusto, que foi derrotado na proposta de convidar os pesquisadores Maria Hermínia Tavares e Ricardo Antunes.

Segundo Paulinho, o relator Paulo Paim prometeu fazer seu relatório com o consenso resultante do debate da audiência pública.