Título: Câmara discute orçamento para a Defesa
Autor: Doca, Geralda; Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 12/11/2007, O País, p. 4

Além das Forças Armadas, Itamaraty também encaminhou pedido de emendas para garantir verbas em 2008.

BRASÍLIA. O lobby das Forças Armadas no Congresso por mais recursos causou um impasse na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados. Além dos três comandantes militares, o Itamaraty também enviou pedido de emenda à proposta orçamentária de 2008 para a área da Defesa, especialmente para forças de paz. Mas cada comissão só pode apresentar três emendas.

Para tentar resolver o problema, o presidente da comissão, deputado Vieira da Cunha (PDT-RS), conversa hoje com representantes das três Forças. A idéia é costurar uma articulação para que outras comissões possam abraçar os pedidos.

Ele sugere que a Comissão de Ciência e Tecnologia fique com o pedido de emenda apresentado pela Marinha para garantir verba para os submarinos e a reforma de navios; e que a Comissão da Amazônia contemple o pedido do Exército, que desenvolve operações na região.

- Temos um impasse e precisamos negociar alternativas - disse Cunha, acrescentando que a comissão se reúne amanhã para apreciar as emendas.

O deputado lembrou que dados apresentados pelos comandantes militares em recentes audiências públicas mostram que as Forças Armadas estão em situação preocupante, necessitando dar andamento aos projetos de reaparelhamento. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, garantiu que a recuperação dos investimentos será iniciada em 2008.

O relator setorial do Orçamento, de Defesa e Segurança, senador Sérgio Zambiasi (PTB-RS), contou ter recebido do Ministério da Defesa emenda complementar para garantir às Forças Armadas 50% a mais de recursos em relação ao ano passado. A proposta orçamentária acordada pelo governo para 2008 é de R$9,3 bilhões.

- Vamos procurar preservar os valores que foram estabelecidos no acordo do Orçamento - disse Zambiasi.

Ex-presidente da Comissão de Relações Exteriores, o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) afirma que a obsolescência material e tecnológica das Forças Armadas é antiga e conhecida, e que os investimentos sempre foram modestos, mesmo durante o regime militar. Ele lembrou que, governo Fernando Henrique, houve uma grande redução de recursos para a área, e a retomada dos investimentos, no governo Luiz Inácio Lula da Silva, está muito aquém das necessidades do setor.

- O problema existe e está cercado de certa gravidade. Mas a solução não é fácil nem imediata. Tem que ser feita uma programação para reequipar e adequar as Forças. Se houver investimento continuado, em cinco anos superamos boa parte desse atraso - estimou Aldo.

Investimento é fundamental para manter a paz, diz Aldo

O deputado enfatizou que, além das vastas fronteiras, há os compromissos externos, como o envio de tropas de paz para países como o Haiti. Para Rebelo, o repasse maior de verbas para as Forças Armadas deve ser visto como algo fundamental para a manutenção da paz no país.

Já o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), disse que é correto o governo duplicar o investimento nas Forças Armadas, garantindo a compra de novos equipamentos.

- O Brasil deve se preparar para ser uma potência militar defensiva. A Venezuela começou uma corrida armamentista. O presidente Hugo Chávez não tem como guerrear com os Estados Unidos, só na retórica. Pela ordem, ele oferece perigo para a Guiana, remotamente para a Colômbia e mais longinquamente para o Brasil - analisou o tucano, acrescentando que o foco do Conselho Nacional de Segurança deve ser o investimento em tecnologia.