Título: Dirigentes viraram profissionais de sindicatos
Autor: Lima, Maria; Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 11/11/2007, O País, p. 14

Sem disputa eleitoral, líderes abandonam profissões, se perpetuam nos cargos ou transitam entre entidades.

BRASÍLIA. A tropa de choque que briga no Congresso contra a aprovação do fim da contribuição sindical, que arrecada anualmente R$480 milhões, é composta por conhecidas figuras que comandam sindicatos, federações, confederações e centrais de trabalhadores há mais de três décadas, em alguns casos. O retrato do movimento sindical não mudou muito desde os anos 80. Os líderes que vêm se perpetuando no poder, ou transitando de uma entidade para outra, financiados pelo dinheiro do trabalhador nem sempre sindicalizado, rejeitam o rótulo de pelegos, mas admitem que viraram profissionais do sindicalismo.

A maioria desses dirigentes consegue a recondução para os cargos de direção quase sempre automaticamente, sem disputa eleitoral. Ou, em outros casos, com mudança dos estatutos para prorrogação ou aumento do tamanho dos mandatos.

Agora no comando da União Geral dos Trabalhadores (UGT), criada este ano com a fusão da Central Geral dos Trabalhadores( CGT) e a Social Democracia Sindical (SDS), o ex-auxiliar administrativo de uma empresa telefônica de Natal Francisco Canindé Pegado ficou conhecido ainda na década de 80, quando se discutia no governo da Nova República o fracassado pacto social. Ele conta que a última vez que trabalhou numa empresa da Telebrás em Natal foi há 28 anos. Tinha 23 anos.

No meio sindical, sem exercer qualquer profissão

De lá para cá, começou uma bem-sucedida carreira de líder sindical. E diz que não pretende sair tão cedo. No período, ele fez cursos de jornalismo e direito, e pós-graduações em direito do trabalho e relações internacionais. Mas nunca exerceu qualquer uma dessas profissões. Paralelamente aos cargos de direção nos sindicatos, foi conselheiro e presidente do poderoso Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo aos Trabalhadores (Codefat). O órgão tem orçamento anual de cerca de R$4 bilhões e um histórico de escândalos e investigações sobre o desvio de milhões destinados aos sindicatos. Pegado está no Codefat desde 1980, onde foi presidente duas vezes:

- Ainda tenho muito o que fazer. Não sou um homem rico. O patrimônio que ajudei a construir é para atender os trabalhadores com assistencialismo.

Fundador da Força Sindical e primeiro presidente da central, Luiz Antônio Medeiros está no movimento sindical desde 1981, quando foi eleito primeiro-secretário do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes. Graças à sua militância, conquistou um mandato de deputado, e chegou ao governo do presidente Lula, onde ocupa o cargo de Secretário de Relações do Trabalho, na pasta do Trabalho. Ele continua na direção do sindicato e lidera o movimento pela manutenção do imposto sindical. Perguntado recentemente se não se sentia desconfortável com a dupla jornada, Medeiros disse que preferia não responder. Ele diz que, pessoalmente, é a favor do fim do imposto, mas argumenta que, sem ele, os sindicatos podem ir à falência.

Em 1999, Medeiros passou a presidência da Força Sindical para Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, que continua até hoje no cargo e também tem mandato parlamentar. Hoje é ele o comandante da tropa de choque contra a derrubada da contribuição no Senado. Na biografia de Paulinho na página da Câmara está escrito "Profissões: metalúrgico, controlador de qualidade e sindicalista".

Paulinho defende a profissionalização, mas diz haver um exagero nessa análise. Para ele, se os trabalhadores não forem afastados do dia-a-dia das empresas, não há como fazer movimento sindical, pois não foi criada a figura da "comissão de fábrica" no país:

- Temos de desligar o sindicalista da fábrica e colocar na porta de todas as fábricas.

O deputado é formalmente vinculado à Engecontrol, empresa fornecedora da Petrobras, mas diz que, antes de assumir o mandato, quem pagava seu salário era o sindicato. Ele é filiado ao Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Mogi das Cruzes e Região desde 1977:

- Estou afastado da fábrica, mas continuo ligado às minhas bases. Às segundas e sextas-feiras, sempre vou à fábrica.

"Os sindicatos estão envelhecendo"

Outra figura carimbada é o atual secretário da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna. Ele trabalhou como petroleiro de 1973 a 75, na refinaria da Petrobras em Cubatão. Em 1976 deixou a profissão e entrou para a Juventude Operária Católica. No final da década de 70, passou a participar do movimento sindical. Atualmente é 2º vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Mogi das Cruzes e Região.

Ministro do Trabalho entre 85 e 88, quando tentou construir o pacto social, Almir Pazzianotto se lembra bem dessas pessoas que estão até hoje à frente do movimento sindical.

- Não só as direções sindicais estão se perpetuando nos cargos, como os sindicatos estão envelhecendo. Não exercem mais atração ao trabalhador jovem e bem qualificado. Por isso, o desespero dessas pessoas em descobrir novas fontes de financiamento e garantir o imposto sindical - diz Pazzianotto.

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