Título: Grupo se especializa em fundar entidades sindicais
Autor: Lopes, Rodrigo
Fonte: O Globo, 11/11/2007, O País, p. 15

De acordo com a PF e o MP, algumas são fantasmas.

BELO HORIZONTE. O dinheiro fácil das contribuições e taxas compulsórias pagas pelos trabalhadores fomenta a indústria dos sindicatos. Em Minas Gerais, um grupo aproveitou a brecha da legislação para se especializar na fundação de entidades classistas. Investigações da Polícia Federal e do Ministério Público mostram que essas pessoas criaram cerca de 30 entidades sindicais, algumas sem representatividade e outras até fantasmas, com o objetivo de abocanhar cerca de R$20 milhões que esses sindicatos juntos arrecadaram, ano passado, de contribuição sindical dos mais de 300 mil trabalhadores mineiros ligados ao setor de construção civil e de mobília. Documentos revelam que também existem dirigentes laranjas e que quase 20 pessoas são diretores em vários sindicatos.

A denúncia do Ministério Público, já apresentada à Justiça, mostra que o ex-bóia-fria e hoje fazendeiro Lázaro Pereira, há mais de 20 anos presidente da Federação dos Trabalhadores da Indústria da Construção Civil e do Mobiliário de MG, se transformou num multissindicalista ao se juntar a amigos para criar e controlar 28 sindicatos fantasmas ou sem representatividade. Eles usam serviços de uma rede de laranjas e fraudam atas e outros documentos para dar legalidade a sindicatos que, na verdade, só existiam no papel.

Lázaro e seu grupo fundaram a Federação dos Trabalhadores nas Indústrias de Construção de Estradas, Pavimentação e Terraplanagem em Geral de MG. Detalhe: no endereço apontado como sede funcionava um salão de beleza, de acordo com depoimento de José Arcanjo Alves, síndico do edifício, à polícia.

Controle dos sindicatos é loteado por região

Lázaro reveza o controle dos sindicatos com outros operários: Osmar Antônio de Barros, Celso Alves Moreira, Realino Rodrigues de Oliveira, e René José da Silva, Marcio Antero Fernandes, Pedro Corredo, Juscelino Pinto, Domingos Ferreira de Souza e Vitorino Gomes da Silva. Todos são ligados à federação dos Trabalhadores na Indústria da Construção e do Mobiliário e à outra fantasma. Os papéis mostram que o controle dos sindicatos é loteado por região do estado, em média, cada integrante do grupo chegava a controlar quatro sindicatos e federações.

O advogado da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil e do Mobiliário, José Mohamed Costa, disse que a denúncia está sub judice, mas admitiu que a entidade foi criada em local inexistente e com recrutamento de laranjas para integrar diretorias.

- Faltavam nomes para preencher a executiva da federação, então convidaram essas pessoas - disse.

O advogado alega que as entidades fantasmas não proliferam, mas não respondeu se elas recebem contribuição sindical. Costa atribui a denúncia do Ministério Público a uma "guerra sindical".