Título: Bernanke vê desaceleração nos EUA
Autor: Frisch, Felipe
Fonte: O Globo, 09/11/2007, Economia, p. 25

Discurso do presidente do BC americano faz bolsas e petróleo recuarem.

WASHINGTON e NOVA YORK. A economia americana vai desacelerar consideravelmente nos próximos meses, à medida que a alta dos preços do petróleo pressione a inflação, afirmou ontem o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), Ben Bernanke. Mas ele assegurou que o panorama está distante da estagflação dos anos 1970 e previu uma recuperação para meados de 2008.

- O Comitê (de Mercado Aberto) esperava que o crescimento da atividade econômica desacelerasse consideravelmente no quarto trimestre - disse Bernanke em depoimento no Congresso, referindo-se à última reunião do Fed.

As declarações de Bernanke abalaram os mercados de EUA e Europa. Em Paris, o índice CAC caiu 0,91%, e o FTSE, de Londres, 0,05%. Wall Street teve um dia volátil. O Nasdaq chegou a cair mais de 3%, em parte devido aos resultados ruins da Cisco, mas acabou fechando em baixa de 1,92%. O Dow Jones caiu 0,25%, tendo recuado 1,5% no meio da tarde, e o S&P, 0,06%.

O discurso de Bernanke pelo menos segurou os preços do petróleo. O barril do tipo leve americano recuou 0,94%, para US$95,46, depois de ter sido negociado a US$97,70. Já o do Brent caiu 0,48%, a US$92,79.

Bernanke admitiu que a economia enfrenta vários problemas, desde uma desaceleração maior que o previsto do mercado imobiliário até às restrições de crédito, passando pela alta do petróleo e a desvalorização do dólar, que aumentam os riscos de inflação.

Ele ressaltou que o Fed, que reduziu os juros duas vezes desde setembro, acompanha os mercados e está pronto para agir quando necessário. Mas Bernanke ressaltou que o Fed vê riscos equilibrados entre a ameaça de crescimento menor e a inflação maior.

- O mercado achava que o presidente do Fed acenaria com uma promessa de outro corte de juros, mas, em vez disso, ele enfatizou os riscos da inflação - disse David Jones, economista-chefe da DMJ Advisors.

Executivo do Deutsche Bank vê pior crise em 30 anos

Segundo Bernanke, o Fed estima que a atividade econômica vai desacelerar no trimestre corrente, depois da expansão de 3,9% entre julho e setembro. Muitos analistas prevêem crescimento de 1,5%.

Para economistas, o discurso de Bernanke foi influenciado pelas preocupações com a contínua desvalorização do dólar, que se acelerou quando o Fed começou a reduzir os juros. As taxas menores nos EUA levam os investidores a procurarem ativos mais rentáveis em outros países. O euro subiu ontem 0,2% frente ao dólar, para US$1,4670. Na quarta-feira, a moeda única européia chegou a ser negociada a US$1,4730.

Sobre a crise do mercado imobiliário, Bernanke disse que a economia tem resistido. Opinião que não é compartilhada pelo diretor-executivo do Deutsche Bank, Josef Ackermann: em seminário da agência Reuters, ele disse que a crise é a pior de seus 30 anos de carreira.