Título: Governo: reajuste do álcool está na normalidade
Autor: Oliveira, Eliane; D'Ercole, Ronaldo
Fonte: O Globo, 15/11/2007, Economia, p. 29

Analistas estimam que repasse do aumento de 22,7% das usinas signifique alta de 0,07 ponto no IPCA.

BRASÍLIA e SÃO PAULO. O Ministério da Agricultura vê com normalidade os últimos reajustes no preço do álcool. Segundo os técnicos da pasta, o país está iniciando um período de entressafra quando, tradicionalmente, a cotação do produto no mercado interno costuma subir. Em São Paulo, do fim de outubro até ontem as distribuidoras já haviam repassado aos postos reajustes de 18% o litro, segundo o Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo (Sincopetro). No Rio, os aumentos variam de 6,6% a 13,3%. Pelo menos por enquanto, o governo não está preocupado com os aumentos, uma vez que os preços atuais ainda não chegaram sequer aos patamares do ano passado, quando o litro do combustível custava, na usina, cerca de R$0,86, conforme levantamento da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq).

De acordo com o diretor do Departamento de Açúcar e Álcool do Ministério da Agricultura, Alexandre Strapasson, também não há risco de desabastecimento. O estoque que se encontra nas mãos do setor privado, informou, é da ordem de 1 bilhão de litros, permitindo que o mercado seja plenamente abastecido até março do ano que vem, quando termina a entressafra no Centro-Sul.

- Os estoques disponíveis hoje no Brasil e as estimativas até o final da entressafra são suficientes para garantir o abastecimento nacional - disse Strapasson.

Além da entressafra, outra razão para a alta do preço do álcool é a demanda. É cada vez maior o número de carros bicombustíveis, e, como a gasolina está mais cara que o álcool nos postos, os consumidores estão optando pelo segundo produto.

Apesar de ainda ser cedo para saber quanto dessa alta será repassada às bombas e seu impacto na inflação, analistas estimam que o reflexo no IPCA será de 0,07 ponto percentual. Levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, da Esalq, mostra que, nas duas semanas encerradas no último dia 5, os preços médios do álcool hidratado vendido pelas usinas paulistas subiram 22,7%, de R$0,58604 para R$0,71698 o litro. No mesmo período, o anidro (misturado à gasolina) avançou 16%.

Para Sérgio Vale, da MB Associados, num exercício hipotético, se essa alta de 22,7% for repassada imediata e integralmente ao varejo, significaria um acréscimo de 0,07 ponto percentual no IPCA, cujas projeções para novembro apontam alta de 0,25%:

- Haverá impacto, mas nada exagerado, também porque os preços do grupo alimentação, em baixa, tendem a contrabalançar a alta do álcool.

Álcool tem peso de 0,38% na composição do IPC-S

Já para o economista Gian Barbosa, da Tendência Consultoria, nenhum dos indicadores prévios de inflação nem as pesquisas semanais da Agência Nacional do Petróleo (ANP) apontam pressão no varejo proporcional à alta nas usinas. Ele espera reflexos nos índices de dezembro. Paulo Picchetti, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fundação Getulio Vargas (FGV), ressalta que os preços do álcool no atacado são muito voláteis, por isso não é possível dizer nem quando nem quanto será repassado ao consumidor.

- Trata-se de um fenômeno sazonal (a entressafra), que não serve como indicador de tendência para a inflação - diz Picchetti, lembrando que o álcool combustível tem peso modesto nos índices de inflação.

No IPC-S Brasil da FGV, por exemplo, o álcool tem peso de 0,38% na composição do índice, contra 3,28%.