Título: Morte súbita
Autor: Saad, Eduardo B.
Fonte: O Globo, 17/11/2007, Opinião, p. 7

A morte súbita cardíaca é um dos maiores problemas de saúde pública no mundo, atingindo mais de 200 mil pessoas por ano, só nos Estados Unidos, e 712 pessoas todos os dias, no Brasil, principalmente, na faixa etária mais produtiva. A maioria das mortes ocorre fora do ambiente hospitalar, sendo necessário um atendimento rápido para que se evite a morte definitiva ou seqüelas decorrentes do problema.

Para isso, é necessário que a população saiba reconhecer uma parada cardíaca e realizar manobras de ressuscitação imediatas. A cada minuto sem a desfibrilação, a chance de uma vítima se recuperar diminui em 7% a 10%. A morte cerebral e a morte permanente ocorrem em 4 a 6 minutos após a parada cardíaca. Poucas tentativas de ressuscitação são bem-sucedidas após 10 minutos. Um conceito fundamental é que a morte súbita não é INEVITÁVEL, sendo reversível em muitas vítimas, se tratada rapidamente com um choque elétrico aplicado no peito (o termo médico é desfibrilação), por um aparelho chamado desfibrilador.

A morte súbita é um evento inesperado e dramático, sendo conceituada como a morte que ocorre no máximo em uma hora após o início dos sintomas, em geral, em poucos minutos, não decorrente de trauma ou violência. Pode acometer recém-nascidos e adultos.

Nos adultos, as principais causas são as doenças do coração, sendo a doença das artérias coronárias (infarto agudo do miocárdio) a mais importante. Em pessoas abaixo de 35 anos, as principais causas são doenças congênitas. O mecanismo das mortes súbitas, na grande maioria dos casos, são arritmias cardíacas, principalmente a fibrilação ventricular. Todas as arritmias levam a uma queda do rendimento cardíaco, faltando sangue no cérebro, fazendo com que a pessoa perca a consciência e caia.

O tratamento definitivo das pessoas que foram recuperadas de uma parada cardíaca inclui a investigação do problema, e o tratamento para prevenir futuros episódios. As principais causas tratadas são as obstruções das coronárias e as arritmias. Estas, muitas vezes, quando diagnosticadas como arritmias malignas e potencialmente letais, podem necessitar do implante de aparelhos tipo marca-passos cardíacos, que são desfibriladores internos. Os exames e a terapia posterior incluem o cateterismo cardíaco, os testes eletrofisiológicos, as angioplastias e implantes de "stents", as cirurgias de revascularização miocárdica e a utilização de drogas antiarrítmicas.

A prevenção da morte súbita passa desde a prevenção da doença coronariana e seus fatores de risco (hipertensão, diabetes, sedentarismo, tabagismo), avaliação cardiológica de pessoas com história de desmaios (síncopes) ou história familiar de morte súbita, até a implantação de defibriladores externos automáticos em locais por onde circulem mais de 2 mil pessoas por dia, como aeroportos, shoppings, estádios. O desfibrilador externo automático (DEA) é auto-explicativo, podendo ser manuseado por qualquer pessoa. O acesso público ao desfibrilador pode fazer com que a sobrevida nesses casos suba de menos de 2% para 40% a 45%, em média. Encontra-se no Senado Federal um projeto de lei (PL 4.050/04) que obrigará o uso de DEA em locais com grande circulação de pessoas.

A Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas inicia, a partir deste mês, uma campanha nacional para prevenção de morte súbita e arritmias cardíacas, com o objetivo de conscientizar a população para a detecção e o tratamento precoce dessa doença e da necessidade de instalação de desfibriladores automáticos externos.

EDUARDO B. SAAD é médico do Instituto Nacional de Cardiologia, coordenador do Serviço de Arritmia e Estimulação Cardíaca e do Centro de Fibrilação Atrial do Hospital Pró-Cardíaco.