Título: Negros: mais renda, menos emprego
Autor: Almeida, Cássia
Fonte: O Globo, 20/11/2007, Economia, p. 22

Em 11 anos, distância em relação a ganhos de trabalhadores brancos diminuiu.

Em 11 anos (de 1995 a 2006), os negros conseguiram diminuir a diferença de rendimento em relação aos brancos, mas enfrentaram o crescimento da taxa de desemprego. Essas conclusões estão no estudo do professor da UFRJ Marcelo Paixão, que coordena o Laboratório de Análises Estatísticas Econômicas e Sociais de Relações Raciais, preparado para o Dia Nacional da Consciência Negra, comemorado hoje:

- Houve melhoria de renda, principalmente nas faixas intermediárias mais próximas do mínimo. Houve queda da desigualdade em todas as faixas de renda, com menor intensidade nas pontas.

Segundo Paixão, uma conjunção de fatores contribuiu para essa redução nas diferenças de renda entre as raças. Ele cita a valorização do mínimo, o início das políticas de ação afirmativa, o controle da inflação e um modelo econômico menos favorável à classe média. Pela contas do economista, os brancos, que ganhavam 113,9% a mais que os negros em 1995, passaram a ganhar 93,3% em 2006. Entre as mulheres, a queda também foi sentida em dez anos: de 107,8% para 91,8%.

Desemprego para as mulheres negras é maior

Mas a inserção precária no mercado de trabalho acabou aumentando a presença negra entre os desempregados. Segundo o estudo, enquanto para os brancos a taxa de desemprego subiu de 5,8% para 7,7%; entre os negros, a desocupação passou de 6,8% para 9,6%. Para as mulheres negras, a situação ficou ainda mais dramática, atingindo 14,9% das trabalhadoras no mercado.

- No governo Fernando Henrique Cardoso, o desemprego para elas cresceu mais. E no governo Lula, a queda foi menor - explica o economista.

As condições de trabalho deixam clara a distância entre negros e brancos no Brasil. O estudo, que usou os números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE, mostra a participação maior dos negros no trabalho informal. Entre os assalariados, 39,8% dos brancos têm a carteira assinada, enquanto, entre os negros, esse percentual é de 33%. O que mais chamou a atenção do economista foi a forte presença das mulheres negras no serviço doméstico. Esse tipo de atividade ocupa 21,8% das negras, e somente 16,6% delas têm carteira de trabalho assinada.

A desigualdade racial cresceu quando se observa a presença feminina no trabalho precário. Em 1995, a diferença entre as brancas e negras era de 14,8 pontos percentuais. Em 2006, subiu para 15,8 pontos percentuais. A redução da presença feminina branca no trabalho precário foi maior que entre as negras.

- Isso é um escândalo, numa estabilidade que impressiona - diz Paixão.

Na administração pública, os negros também estão em menor número. O setor ocupa 5,5% dos brancos e 4,7% dos negros. O servidor público Josias de Lima Lourenço está nesse grupo. Trabalha na Casa da Moeda, depois de ter saído dos Correios. Nos dez anos do estudo, viu seu rendimento quadruplicar. Com Ensino Médio completo, Lourenço busca cursar faculdade de matemática:

- Fiz concursos e sempre estudei sozinho. Meu sonho é ser professor. Estudo para isso.