Título: Crise na saúde faz Bahia importar médicos
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Fonte: O Globo, 21/11/2007, O País, p. 8

Para atrair profissionais, governo baiano publica anúncio em outros estados. Salário de anestesista pode chegar a R$23 mil

SALVADOR e BRASÍLIA. A carência de médicos na rede pública levou a Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab) a tentar encontrar profissionais de outros estados que estejam dispostos a trabalhar no território baiano. Nos últimos dias, vários anúncios foram publicados em jornais do Rio, São Paulo e Minas Gerais oferecendo emprego para anestesistas, residência médica e plantonistas de várias especialidades com salários de R$8 mil, podendo chegar até a R$23 mil por mês no caso de anestesistas, especialidade em situação mais crítica, com carência de pelo menos cem profissionais na rede pública, de acordo com a própria secretaria.

Nos três principais hospitais públicos de Salvador, o Roberto Santos, o Ernesto Simões e o Geral do Estado, o que se vê é superlotação e inúmeras macas espalhadas pelos corredores, onde pacientes agonizam. Muitos transportados por ambulâncias de municípios do interior.

A situação da área de saúde pública, que já era uma das mais carentes no governo passado, controlado pelo PFL (atual DEM), agravou-se no governo Jaques Wagner (PT) porque a Secretaria de Saúde decidiu, no início do ano, cancelar o contrato com a Coopamed, uma empresa terceirizada que mantinha cerca de três mil médicos em 32 unidades de saúde do estado. O governo alegou que uma decisão do Tribunal Superior do Trabalho havia considerado "inidônea" a intermediação de mão-de-obra feita pela cooperativa.

Para substituir os médicos da Coopamed, a secretaria fez uma seleção pública para contratação temporária, através do Regime Especial de Direito Administrativo (Reda), modelo adotado no passado. Contudo, as três mil vagas não foram preenchidas. Isso também não se resolveu quando, posteriormente, a secretaria decidiu novamente contratar cooperativas para o fornecimento de mão-de-obra.

Hospitais reduziram em 20% o atendimento

As distorções levaram os hospitais a uma redução de, pelo menos, 20% no atendimento. O Hospital Roberto Santos, por exemplo, reduziu o número de cirurgias/mês por falta de anestesistas no seu quadro. Seriam necessários dez anestesistas por turno. A média de comparecimento dificilmente passa de cinco. A situação do Roberto Santos se reproduz por toda a rede hospitalar do Estado. Na Maternidade Albert Sabin, no bairro de Cajazeiras, tornou-se impossível realizar cesarianas por falta de anestesistas. Conclusão: apenas 10% dos leitos da maternidade estão ocupados.

Residentes poderão ganhar no estado até R$8 mil

O secretário de Saúde da Bahia, Jorge Solla, classificou sua política para atrair médicos como "agressiva". A Bahia tem apenas três cursos de medicina e a relação habitante-médico é baixíssima. Segundo ele, é até quatro vezes menor que a do Rio. Em anúncios publicados em grandes jornais do Sudeste, Solla quer atrair recém-formados para fazer a residência médica na Bahia. O anúncio diz que o salário pode chegar até R$8 mil. São R$2 mil de bolsa e mais dois vínculos de trabalhos, como plantão, que podem totalizar os R$8 mil. São 400 vagas:

-- A idéia de apostar nos residentes é porque há uma tendência de o médico se fixar nas regiões onde fez a sua residência médica. É onde começa sua vida profissional e social.

O secretário disse que as principais vagas para residentes serão destinadas à pediatria, cirurgia, anestesia, clínica e obstetrícia. Até janeiro, ele pretende abrir 29 vagas para anestesista. Segundo Solla, o salário desses profissionais poderá chegar a R$23 mil. Sobre as carências médicas do estado, ele deu o exemplo do Oeste da Bahia, onde, até recentemente, não havia sequer um neurocirurgião. Dos 40 profissionais dessa especialidade no estado, 35 estão em Salvador.

Desde 12 de outubro o governo do estado passou a aceitar médicos em contratos de pessoas jurídicas. Mas, 38 dias depois apenas duas propostas foram apresentadas por grupos de médicos interessados em prestar serviço. Com esse tipo de contratação, o salário pago é de acordo com a produção. Para cada plantão de 12 horas, o valor é de R$550. No final de semana a remuneração chega a R$650. O valor é bem maior que o salário dos médicos concursados, que varia de R$1,5 mil a R$3,5 mil. O diretor da Rede Própria da Secretaria de Saúde do Estado (Sesab), Ricardo de Gouveia, informou que a secretaria deve concluir em um mês o levantamento do déficit de médicos da rede pública estadual.

Com Agência A Tarde