Título: Todo o gás de Tupi vai ser explorado
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 21/11/2007, Economia, p. 23

De olho na demanda, Petrobras não quer desperdiçar insumo do megacampo.

BRASÍLIA. De olho no aumento da demanda brasileira por gás natural e querendo reduzir a dependência externa, a Petrobras está determinada a evitar que a exploração de petróleo no megacampo de Tupi, na Bacia de Santos, leve ao desperdício do produto, como ocorre em outros campos brasileiros. O projeto-piloto de Tupi, que deve começar no fim de 2010, virá necessariamente acompanhado de uma estratégia de aproveitamento total do gás natural dos blocos. Nos últimos dias, a estatal começou a discutir alternativas tecnológicas para implementar a política.

- Não vamos perder gás. Temos que estabelecer qual será a melhor forma de aproveitá-lo - disse Guilherme Estrella, diretor de Produção e Exploração da Petrobras, em solenidade do PAC de Ciência e Tecnologia no Planalto.

Para cada 100 mil barris de óleo produzidos diariamente, a Petrobras estima que possa gerar entre 1,5 milhão a 2 milhões de metros cúbicos de gás. Com isso, a capacidade de produção de gás de Tupi é bastante promissora. Segundo Estrella, há quatro opções para evitar o desperdício de produto. A primeira é a tradicional, com a construção de um gasoduto ligando a área de exploração ao litoral.

Essa opção é a que menos interessa à Petrobras, pois é considerada extremamente cara e ecologicamente controversa. A região de exploração está distante cerca de 250 km do litoral, e, segundo Estrella, o gasoduto teria que se dirigir a uma região com forte potencial turístico, entre Parati, no Rio, e Florianópolis. Para receber esse gás, seria preciso construir instalações da empresa nessa região, o que poderia trazer problemas ambientais.

- A forma tradicional é a mais cara. Esta é a oportunidade de aplicarmos um novo conceito de exploração - disse Estrella.

Entre as opções, navios e construção de reservatório

Por isso, a Petrobras está investindo em trazer navios para transformar o gás em liquefeito. Depois, ele seria transportado por navio para instalações da Petrobras no Rio ou no Ceará e novamente gaseificado. A terceira alternativa levantada pela estatal é a produção de energia elétrica também em alto-mar, por meio de navios-termelétricas. A energia gerada poderia não só abastecer as plataformas de exploração, reduzindo o custo da empresa, quanto ser transmitida para o litoral por meio de cabos submarinos.

A última opção é mais inovadora e prevê a construção de cavernas na camada de sal na região de Tupi para armazenar o gás enquanto se produz petróleo. Dessa forma, o produto extraído das camadas mais profundas poderia ser guardado para quando for necessário. Essa técnica, disse Estrella, já existe e não é tão complexa.

No Senado, em audiência na Comissão de Infra-estrutura para discutir a crise recente de abastecimento de gás, a diretora de Gás e Petróleo da Petrobras, Maria das Graças Foster, afirmou que a estatal pretende fechar novos contratos de fornecimento com as distribuidoras até março ou abril. Deverá haver cláusulas mais flexíveis, permitindo a compra de gás dependendo da necessidade.

- A situação do Rio foi falta de contrato - disse, ao referir-se à crise de abastecimento de gás natural há três semanas.

Como antecipou ao GLOBO há duas semanas, Graça Foster disse que a alta dos custos de produção e novos investimentos levarão à necessidade de reajuste no preço do gás entre 15% e 25% nos próximos meses.

Diante do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de ministros, a Vale do Rio Doce e a sul-coreana Dongkuk Steel assinaram, no Planalto, um memorando de entendimento para a construção da Companhia Siderúrgica de Pecém, no Ceará. Os presidentes da Vale, Roger Agnelli, e da Dongkuk, Saejoo Chang, acabaram criticando a Petrobras por ter deixado o projeto, o que impediu que houvesse garantia firme de entrega de gás para o empreendimento, que usará carvão como insumo. Coube a Lula pôr panos quentes nas declarações, elogiando a iniciativa das duas empresas.

- Este projeto vai marcar um pouco a história do desenvolvimento do Ceará - disse.

Críticas à falta de gás para projeto siderúrgico

Agnelli afirmou que os coreanos foram compreensivos e aguardaram as negociações para assinar um acordo de investimentos conjunto.

- Mister Chang tem sido muito compreensivo e flexível de fazer um projeto cuja base inicial era usar o gás como redutor e agora vai usar carvão, fazendo o tradicional alto-forno - discursou.

Semana passada, quando esteve no Palácio para anunciar que chegara a um acordo com os sul-coreanos, Agnelli atribuiu a troca de insumo à dificuldade de garantia de fornecimento de gás pela Petrobras. A estatal queria cobrar a mais para fornecer o combustível, e o presidente da empresa, José Sérgio Gabrielli, chegou a dizer que o empreendimento, do ponto de vista econômico, seria inviável.

Chang também reclamou:

- Foi uma pena que não conseguimos construir a última fase por dificuldades no fornecimento do gás.

A nova siderúrgica terá investimento de US$2 bihões.