Título: Novo diretor do Ipea foi assessor de Crivella
Autor: Melo, Liana
Fonte: O Globo, 22/11/2007, Economia, p. 32

João Sicsú, que hoje ocupa Diretoria de Estudos Macroeconômicos no Rio, trabalhou no gabinete do senador.

RIO e SÃO PAULO.Antes de ocupar o cargo de diretor do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), no Rio, o economista João Sicsú estava lotado no gabinete do senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), em Brasília. Até ser exonerado, no último dia 12 de setembro, foram quatro meses e oito dias de trabalho no gabinete. O economista, da UFRJ, foi um dos principais assessores de Crivella, organizador da Campanha Nacional pelo Pleno Emprego. O novo diretor do Rio é o primeiro de fora da instituição a assumir o posto. Procurado, Sicsú preferiu não comentar o assunto.

O economista substituiu Paulo Levy na diretoria de Estudos Macroeconômicos. A substituição ocorreu meses antes do afastamento recente de quatro pesquisadores do Ipea: Fábio Giambiagi, Régis Bonelli, Gervásio Resende e Otávio Tourinho. A alegação para as substituições foi administrativa, mas elas foram encaradas como expurgo de técnicos não alinhados à condução da política econômica. Giambiagi esvaziou sua sala ontem e, na próxima semana, vai bater ponto no BNDES, sua casa de origem. O economista era um crítico do aumento dos gastos públicos.

Para senador, saída não é "cerceio ideológico"

A indicação de Sicsú não foi um fato isolado. Auxiliares de Crivella estavam interessados em saber quantos cargos em DAS teria o Ipea, conforme informou ontem Míriam Leitão em sua coluna. A visita para colher informações teria ocorrido depois que Mangabeira Unger assumiu a Secretaria Especial de Planejamento Estratégico.

- Cheguei a procurar o presidente do Ipea para que ele me passasse os nomes dos supostos assistentes. Nunca recebi esses nomes. Além do mais, não podemos considerar cerceio ideológico a saída de quatro pesquisadores - discursou o senador Crivella, ontem no plenário.

Apesar das mudanças no Ipea terem vindo à tona após a posse de Márcio Pochmann, a cientista política Lúcia Hipóllito acredita que "a tentativa de domesticar a opinião" vem desde a gestão de Glauco Arbix. Ele foi o primeiro economista a assumir à presidência do Ipea no primeiro mandato do presidente Lula.

PT divulga nota de solidariedade a Pochmann

Como editora do livro "Ipea 40 Anos - uma trajetória voltada para o desenvolvimento", Lúcia lembra que nomes expressivos de depoentes não estavam na lista indicada por Arbix na época. O ex-ministro da Fazenda Pedro Malan (pesquisador do Ipea), a ex-ministra da Indústria, Comércio e Turismo Dorotéia Werneck ( que trabalhou no órgão) e até o ex-presidente do Ipea Andrea Calabi são alguns dos nomes excluídos da primeira versão da lista. O livro foi lançado em 2004.

A Executiva Nacional do PT divulgou nota em solidariedade a Pochmann. Para o partido, ele está "sendo vítima de campanha articulada por setores do PSDB e do DEM", que o acusam de "atentar contra o pluralismo do instituto, confundindo medidas administrativas corriqueiras com interferência partidária na pluralidade indispensável ao trabalho científico".

COLABOROU Aguinaldo Novo