Título: Órgãos públicos facilitam a propagação da dengue
Autor: Engelbrecht, Daniel
Fonte: O Globo, 26/11/2007, Rio, p. 14

Valeta de um chafariz e delegacia têm água parada.

O descaso de alguns órgãos públicos, justamente na época em que as ações de combate à dengue são mais importantes, vem colocando em risco a saúde dos cariocas. Na Tijuca, a garagem de uma delegacia, onde existem carcaças de motos e carros velhos, está alagada há mais de dez dias. Moradores de um condomínio vizinho reclamam da proliferação de mosquitos, devido ao grande volume de água parada. Na Praça Quinze, um dos locais de maior movimento da cidade, uma valeta entupida também permite a procriação dos mosquitos.

Desde as últimas chuvas, a garagem da 19ª DP (Tijuca), que fica abaixo do nível da rua, está tomada por um palmo de água. Do condomínio Juiz Pedro Namorado, que fica nos fundos, é possível ver dois carros velhos e diversas carcaças de motos no meio da água. Se não bastasse isso, o local é sombreado por árvores, transformando-se num criadouro ideal para o mosquito da dengue.

A síndica do condomínio, Marlene de Albuquerque, diz que a quantidade de mosquitos na região é grande, apesar da presença freqüente de agentes de saúde nos prédios. Segundo ela, somente nos últimos meses dois moradores do condomínio, que tem 17 blocos e 256 apartamentos, pegaram dengue:

¿ Os agentes de saúde vivem no condomínio vistoriando vasos de plantas e ralos. Fazemos um esforço para manter tudo em ordem. Mas de que isso adianta, se o prédio ao lado virou um pântano?

Prédio no Humaitá tem água empoçada

O problema do alagamento da delegacia, segundo vizinhos, é freqüente. Eles contam que caminhões do Corpo de Bombeiros costumam ser usados para bombear a água para fora.

Na Praça Quinze, é uma valeta entupida na base do Chafariz da Pirâmide, de Mestre Valentim, próximo ao Mergulhão, que representa risco aos passantes. A valeta está com um palmo de água parada de ponta a ponta e é possível ver larvas de mosquito nadando. Um pequeno vazamento de água contribui para manter a valeta sempre cheia.

Reclamações também partem dos moradores de um prédio ao lado do Espaço Cultural Sérgio Porto, da prefeitura, no Humaitá. O local pegou fogo em maio e partes do telhado ruíram. Desde então, toda vez que chove, água fica empoçada no interior do edifício.

¿ Estamos todos muito preocupados. Nunca teve mosquito antes e agora está repleto. E o pior é que vamos falar com os funcionários do espaço cultural e eles debocham da gente ¿ disse uma moradora, que pediu para não ser identificada.

Segundo ela, os funcionários da prefeitura só fazem a conservação da parte externa do espaço cultural. Na sexta-feira passada, O GLOBO mostrou o perigo representado por depósitos de veículos repletos de carcaças em vários bairros da cidade, potenciais criadouros para o Aedes aegypti. No mesmo dia, o governo estadual anunciou a remoção das carcaças de dois depósitos, no Centro.

A Secretaria municipal de Obras prometeu enviar hoje uma equipe à Praça Quinze para fazer a desobstrução da valeta entupida. A Riourb, por sua vez, informou que está marcada para hoje, às 14h, a licitação das obras de recuperação do Espaço Cultural Sérgio Porto, orçadas em R$719 mil. As obras devem levar quatro meses. Já a assessoria da Polícia Civil disse não saber que providências estão sendo tomadas para acabar com o alagamento da 19ª DP.