Título: Dirigentes de universidade são assassinados
Autor: Pinto, Anselmo Carvalho
Fonte: O Globo, 29/11/2007, O País, p. 8

SEGURANÇA PÚBLICA: Polícia investiga hipóteses de latrocínio e pistolagem; somente duas bolsas foram roubadas.

Dirigentes de universidade são assassinados.

Pró-reitora, professor e prefeito da federal de Mato Grosso, em Rondonópolis, foram atacados por homem encapuzado.

CUIABÁ. A pró-reitora, um professor e o prefeito do campus da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) foram assassinados a tiros ontem de madrugada em Rondonópolis, a 210 quilômetros ao sul de Cuiabá. O crime aconteceu em frente à casa da pró-reitora Soraiha Miranda de Lima, de 41 anos, que foi atingida na cabeça e morreu na hora. O professor Alessandro Luis Fraga, de 33, e Luiz Mauro Pires Russo, de 44, prefeito do campus, ainda foram socorridos, mas morreram no hospital. O crime chocou a cidade. As aulas foram suspensas, com luto de três dias.

A Polícia Civil investiga as hipóteses de latrocínio (roubo seguido de morte) e pistolagem. O delegado regional de Rondonópolis, João Pessoa de Moraes Filho, suspeita que o roubo de objetos possa ter sido despiste:

- Houve violência em demasia para tão pouco interesse patrimonial - disse. As primeiras investigações revelam que apenas duas bolsas foram levadas.

O crime ocorreu quando Russo estacionava o carro para deixar a pró-reitora em casa. Os três acabavam de chegar de Cuiabá, onde fica a reitoria geral da UFMT. Segundo testemunhas, um homem encapuzado chegou a pé, parou ao lado do veículo, atirou e fugiu.

Segundo a polícia, pelo menos cinco tiros foram disparados. Há a suspeita de que a pró-reitora, que estava no banco da frente e foi atingida na cabeça e no tronco, fosse o principal alvo da emboscada. Parentes de Soraiha disseram que ela estava recebendo ameaças nos últimos dias. Ela teve o carro danificado há cerca de dois meses.

Professora reivindicava fazenda do crime organizado

Desde fevereiro, o campus de Rondonópolis pleiteava na Justiça a doação de uma fazenda pertencente ao crime organizado e que havia sido confiscada pela PF. A área havia sido comprada com parte dos R$186 milhões roubados do Banco Central de Fortaleza (CE) em 2005. Soraiha estava à frente do pleito. A propriedade fica a 18 quilômetros do campus. Tanto a polícia quanto a UFMT dizem não acreditar que a reivindicação da fazenda tenha qualquer ligação com os assassinatos. A área, avaliada em R$500 mil, está ocupada desde o ano passado por integrantes do MTA (Movimento dos Trabalhadores Acampados e Assentados), uma dissidência do MST.

O superintendente da Polícia Federal em Mato Grosso, José Maria Fonseca, anunciou no início da tarde que a PF vai abrir um inquérito paralelo ao da Polícia Civil. A intenção é investigar se os assassinatos tiveram relação com a função que os três ocupavam.

Os corpos de Soraiha e Russo foram velados na capela do cemitério da Vila Aurora, o principal da cidade. O corpo de Alessandro Fraga seria levado para Catanduva (SP), onde mora sua família.

(*) Especial para O GLOBO