Título: Conselho reage a ingerência do PMDB em Furnas
Autor: Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 29/11/2007, O País, p. 13
Luiz Paulo Conde queria trocar diretoria do fundo Real Grandeza, mas proposta foi derrotada por unanimidade
Os funcionários e aposentados de Furnas Centrais Elétricas derrotaram ontem o apetite por mudanças da nova gestão da estatal. Por unanimidade (seis votos a zero), o Conselho Deliberativo do Real Grandeza, fundo de pensão de Furnas, rejeitou a proposta de substituição do presidente e do diretor de investimentos do fundo, que gere uma carteira de R$4,8 bilhões. A pressão foi grande: durante a reunião, que chegou a ser suspensa pelo presidente do conselho, cerca de 50 pessoas, com narizes de palhaço, fizeram um protesto contra a possibilidade de troca, na porta da estatal, em Botafogo, na Zona Sul do Rio.
Até mesmo os conselheiros indicados por Furnas, cujos votos favoráveis eram dados como certos, rejeitaram a substituição do atual presidente, Sérgio Wilson Ferraz Pontes, e do diretor de investimentos, Ricardo Carneiro Gurgel Nogueira. Os indicados pela atual gestão eram dois funcionários de carreira da estatal - Alci Peçanha Ferreira e Gilberto de Paula e Silva.
Para associação, troca tem fins políticos
A Associação Nacional dos Participantes de Fundos de Pensão, também presente ao protesto, distribuiu uma carta, entregue ao presidente do Conselho Deliberativo do Real Grandeza, Ruy Eduardo Campello, em que afirma que a troca, "ao que parece, tem como único objetivo abrir vagas para que sejam preenchidas por outros dois dirigentes a serem nomeados por critérios exclusivamente políticos".
O ex-prefeito Luiz Paulo Conde, que assumiu o comando de Furnas há três meses, chegou a enviar um e-mail aos funcionários da estatal tentando justificar a proposta, antecipada pelo GLOBO na última segunda-feira. No e-mail, Conde afirma: "Fui nomeado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela minha competência como gestor da coisa pública". Ele sustenta ainda que todas as nomeações feitas por ele "tiveram critérios técnicos, sem ingerência político-partidária ou de qualquer natureza". Nos bastidores, o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB) pressionou o governo para a indicação de Conde.
A Anapar, na carta ao presidente do Conselho Deliberativo da Real Grandeza, afirma que protesta "diante do temor de que se repitam, em novas gestões, fatos como os verificados nas aplicações desastradas feitas pela Real Grandeza no Banco Santos".