Título: Interatividade levará a mudanças de comportamento dos telespectadores
Autor: Fernandes, Lilian
Fonte: O Globo, 03/12/2007, Economia, p. 18

TECNOLOGIA NO AR: TV digital estréia sem programa que permite interação.

PUC-Rio vai avaliar a forma como os brasileiros receberão o novo sistema.

Imagine a seguinte situação: você está assistindo a um programa interessantíssimo, com um grupo de amigos, e, de repente, um deles decide clicar na tela para obter informações adicionais sobre os artistas ou pedir a pizza que um comercial acaba de apresentar. Você reclama? Fica frustrado porque teme perder parte do programa com a interrupção indesejada? Estas, segundo Simone Barbosa, professora do Departamento de Informática da PUC-Rio, são apenas algumas das inúmeras questões que surgem com as possibilidades de interatividade a reboque da digitalização:

- Assistir à TV é uma atitude social, muitas vezes. E a interação é algo individual. É preciso estabelecer boas práticas de interação, como apresentar as informações paralelamente na tela, para que cada um veja o que quiser.

As novas situações resultantes da interatividade, porém, ainda vão demorar para se tornar rotina. Só em 2008 serão lançados os primeiros conversores com o Ginga, o middleware (programa que faz a mediação entre outros softwares), que permitirá a interatividade na era digital, desenvolvido pela PUC-Rio e pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

- O Ginga está pronto desde julho, mas a indústria demorou a apostar nele - diz Luiz Fernando Soares, professor titular da PUC-Rio e um dos criadores do middleware.

Segundo Soares, os fabricantes estão testando a integração do Ginga com seus terminais. Sem ele, o que se tem é a TV convencional, só que com áudio e imagem melhores.

Em janeiro, a PUC começará a fazer testes para tentar descobrir como o brasileiro vai se comportar diante da TV digital. Quem quiser participar pode se inscrever pelo e-mail tvdigital.ginga@gmail.com. Os voluntários serão escolhidos entre a população de baixa renda.

- Estamos começando a testar as boas práticas estabelecidas na Europa para chegar ao nosso padrão de usabilidade. Desde coisas como onde deve ficar o ícone de interatividade até se é melhor usar botões de cores ou setinhas na interatividade - diz Simone, que também coordena o laboratório SERG, onde haverá os testes.

- Já fizemos algumas entrevistas com pessoas, e a expectativa é que a TV digital seja parecida com a web. As pessoas acham que vão poder mudar o fim da novela, o que exigiria a duplicação do esforço de produção.

Simone acredita que vai levar vantagem a emissora que apostar em opções para o público jovem. Ela lembra que a TV aberta já oferece várias oportunidades de interatividade, como votações por telefone. Para a professora, a vantagem da TV digital é oferecer pela TV serviços até então disponíveis só pela internet, como informações ligadas a saúde.