Título: Gigantes petroquímicos
Autor: Melo, Liana; Ribeiro, Érica
Fonte: O Globo, 01/12/2007, Economia, p. 43

DEDO ESTATAL

Petrobras se associa à Unipar e eleva fatia na Braskem, que vira 3ª maior das Américas.

Foi concluído ontem o processo de consolidação do setor petroquímico brasileiro, no qual a Petrobras teve papel fundamental. O emaranhado de participações acionárias foi reduzido a apenas duas empresas: a Sociedade Petroquímica, formada pela Petrobras/Petroquisa e Unipar, e a Braskem, na qual a estatal participa junto com o grupo Odebrecht. Com a reestruturação, a Braskem - que já era a maior empresa latino-americana do setor petroquímico - ascendeu ao posto de terceira maior das Américas, superada apenas pelas gigantes Exxon e Dow Chemical. Ao entrar como sócia minoritária nas duas empresas, a Petrobras não só elevou expressivamente a presença estatal no setor como viabilizou o processo de concentração, a exemplo do que vem ocorrendo lá fora. Toda essa movimentação foi feita sobretudo com troca de ativos, além de desembolso em espécie.

A Braskem, que vai incorporar os ativos da Petrobras espalhados pelo Sul e pelo Nordeste, será uma empresa robusta, com receita bruta de US$11,4 bilhões. A Petrobras e a Petroquisa estão transferindo suas participações na Copesul, na Ipiranga Petroquímica, na Ipiranga Química, na Triunfo e na Petroquímica Paulínia. A Sociedade Petroquímica, a nova companhia do Sudeste, por sua vez, nasce com uma receita líquida de R$6,1 bilhões. Com a fusão, a Petrobras vai receber cerca de R$700 milhões da Unipar referentes às vendas de ativos da Suzano Petroquímica - empresa adquirida pela estatal este ano - e da Rio Polímeros (Riopol).

Presença estatal aumenta no setor

A Petrobras terá papel ativo no Conselho de Administração das duas empresas. Na Braskem, a presença estatal pulou de 6,8% para 25% do capital total da companhia. Só que sua presença no capital votante chega a 30%. Na Sociedade Petroquímica - o nome definitivo só será anunciado em 90 dias - a Petrobras passou a deter 40% do capital. Ainda não está decidido se a nova empresa será ou não de capital aberto.

- A Petrobras deixa de ter um papel irrelevante no setor para assumir uma participação efetiva - disse o presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, comentando que esse processo vem sendo amadurecido há alguns anos e constava do planejamento estratégico da Petrobras, já que há uma tendência mundial de aumento da participação das petroleiras no setor petroquímico.

O presidente da Braskem, José Carlos Grubisich, admitiu que a aliança com a Petrobras era um sonho antigo, que nasceu junto com a própria empresa, em 2002. O setor petroquímico gira no país US$40 bilhões por ano e abrange toda a cadeia de produção de plástico, do processamento dos derivados de petróleo em produtos de consumo às peças de automóveis.

- Concluímos esse processo trazido um volume significativo de sinergias. Estamos falando de US$1,2 bilhão de valor presente líquido ligado às oportunidades de ganhos de várias naturezas nesse processo - admitiu o executivo.

A conclusão da operação está sendo esperada para daqui a seis meses e resultará na emissão de 103,4 milhões de novas ações da Braskem, sendo 46,9 milhões de ações ordinárias (ON, papéis com direito a voto) e 56,5 milhões de ações preferenciais (PN) classe "A".

Segundo Grubisich, o negócio posiciona a Braskem como um competidor global e com forte geração de caixa, o que permitirá acelerar seus planos de crescimento e internacionalização, como os projetos na Venezuela, em parceria com o governo de Hugo Chávez.

- Isso (os projetos) vai permitir que a empresa construa duas unidades de produção na Venezuela, que vão ser tão competitivas quanto as melhores do Oriente Médio, que hoje é o paradigma de competitividade na petroquímica mundial - comentou o executivo.

A participação acionária na Sociedade Petroquímica pode sofrer alteração. Tudo vai depender do BNDES, que, através da BNDESPar, detém 16,7% da Riopol - empresa da qual a Unipar detém 33% do capital. Caso o banco resolva exercer seu direito de preferência na operação de integração da Riopol, o BNDES pode vir a ter 6% de participação na nova companhia do Sudeste.

- Se isso vier a ocorrer, Petrobras e Unipar terão uma participação um pouco menor, mas não existe risco de se somarem as ações do BNDES e da Petrobras e ter mais de 50%. Não existe risco de a empresa deixar de ser privada - reafirmou Gabrielli.

A fusão com a Petrobras está sendo considerada "uma vitória" no grupo Unipar.

- Conseguimos com isso um ganho de sinergia e de competitividade - afirmou Roberto Garcia, presidente da Unipar, comentando que a empresa agora está baseada no principal pólo produtor e consumidor de produtos da petroquímica.

Concentração vai criar duopólio

O risco de o processo de consolidação do setor se transformar no futuro em um monopólio por conta da robustez da Braskem foi descartado por analistas de mercado. Eles acreditam no surgimento de "um duopólio" no país, como ressaltou o economista Luiz Otávio Broad, da Ágora Corretora:

- Serão dois grandes grupos no Brasil. Mas não há risco de monopólio porque o pólo do Sul/Nordeste será um concorrente do pólo do Sudeste.

Uma eventual reestatização do setor petroquímico no país por causa da presença da Petrobras nos pólos do Sul/Nordeste e do Sudeste também foi descartada. A analista da Mercatto Daniella Marques não acredita nisso, assinalando que as participações da estatal são minoritárias.