Título: Sucessão de Renan complica a vida do governo e deve adiar votação da CPMF
Autor: Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 05/12/2007, O País, p. 4

BARGANHAS NO CONGRESSO: "É difícil a disputa não deixar seqüelas", diz Agripino

Oposição manobra, e Tião Viana marca eleição no Senado para a próxima quarta

BRASÍLIA. Sem os votos para aprovar a renovação da CPMF, o governo sofreu ontem um duro revés com a surpreendente manobra da oposição, que obrigou o presidente interino do Senado, Tião Viana (PT-AC), a marcar para a próxima quarta-feira a eleição para a escolha do sucessor de Renan Calheiros (PMDB-AL). Sem condições de sustentar a votação prevista para amanhã, o governo deverá adiar para a próxima terça-feira o primeiro turno de votação, em plenário, da prorrogação da contribuição.

Aliados e oposição afirmam que a antecipação do processo sucessório do Senado, decorrente da renúncia de Renan, foi mais um complicador no difícil cenário do governo, que ainda não conta com os 49 votos para aprovar a emenda constitucional da CPMF.

O próprio líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), admitiu ontem a possibilidade de adiar a votação para o dia 11, embora mantenha o discurso de que tudo estará pronto para votar amanhã. Na verdade, Jucá ficou irritado com a ação do líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), que descumpriu entendimento de que a escolha do novo presidente só ocorreria no final de dezembro, depois de votada a CPMF. Diante do fato novo, o líder do governo teve que adaptar a estratégia do governo e reforçar a batalha pelos votos.

Jucá: "A oposição quis embolar as coisas"

Ontem, Jucá entregou o parecer rejeitando as 19 emendas apresentadas ao texto da CPMF, que deve ser votado hoje na Comissão de Constituição e Justiça do Senado (CCJ). Com isso, a CPMF ficaria pronta para ser votada em plenário amanhã. Os líderes aliados, no entanto, não acreditam que haverá condições políticas para isso - por falta de votos suficientes e sem que esteja resolvida, dentro do PMDB, a sucessão de Renan. A estratégia é justamente resolver a sucessão até terça-feira, entre os peemedebistas, e garantir os votos.

- A oposição quis embolar as coisas, mas isso não ajuda a Casa. Mas estamos aqui para resolver as coisas. Queríamos evitar a mistura desse assunto com o clima de disputa político-eleitoral da CPMF. Provavelmente, a CPMF não será votada nesta quinta-feira - disse Jucá.

Na mesma linha, o líder do PSB no Senado, Renato Casagrande (ES), disse que - com a eleição do novo presidente do Senado no dia 12 - o governo fica obrigado a votar a CPMF até a próxima terça-feira, para evitar que a sucessão contamine ainda mais o clima no Senado.

- Agora, estamos com duas bolas dentro do campo. Para o governo, a CPMF tem que ser votada até terça-feira, antes que haja mágoas da eleição no Senado - resumiu Casagrande.

A oposição comemorava a nova dificuldade criada para o governo. O líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN), disse que a renúncia de Renan à presidência da Casa é um elemento complicador para o governo na discussão da CPMF.

- É difícil a disputa não deixar seqüelas. É um complicador. A oposição quer votar nessa quinta-feira - disse Agripino, anunciando que o presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), senador Marco Maciel (DEM-PE), põe hoje em votação o parecer de Jucá, que é o relator da CPMF na comissão.

"A CPMF não será votada nesta quinta"

Também surpreendido pela fixação da eleição do presidente do Senado para o dia 12, o líder do PMDB, Valdir Raupp (RO), previu que a CPMF não será votada amanhã.

- Na minha avaliação, a CPMF não será votada nesta quinta - disse Raupp.