Título: Sem Amazônia, energia é poluente
Autor: Paul, Gustavo
Fonte: O Globo, 09/12/2007, Economia, p. 50

O diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Jerson Kelman, comemora a licitação e adverte que, sem essas usinas, o país terá de buscar energias mais poluentes.

Vai acabar a era das grandes hidrelétricas?

JERSON KELMAN: Não vai, desde que os brasileiros tenham bom senso. Ainda temos muitos rios com potencial hidráulico não aproveitado. Na realidade só aproveitamos menos de 30% desse potencial.

Onde estão os 70% restantes?

KELMAN: Estão basicamente na margem direita do rio Amazonas. Aí tem um monte de rios.

Como é o potencial das demais regiões?

KELMAN: No Sul e Sudeste, o que existirão são as PCHs (pequenas centrais hidrelétricas). No Nordeste, sobra quase nada.

Por isso, o leilão de Santo Antônio é emblemático?

KELMAN: É o resgate das grandes usinas hidrelétricas brasileiras. É alvissareiro que estejamos retomando essas construções.

Qual a opção do Brasil às hidrelétricas?

KELMAN: A curto prazo não temos como contar com essas grandes hidrelétricas. As que estão em estudo podem até ser licitadas em 2009, mas só ficarão prontas no meio da próxima década. Até lá pode-se trabalhar também com biomassa e PCHs. Essas pequenas também devem ser estimuladas, pois são ambientalmente aceitas e estão mais próximas dos centros (urbanos).

Qual é o risco que se corre?

KELMAN: Aqueles que têm de decidir se o empreendimento hidrelétrico deve ser construído ou não devem pensar nos impactos locais e regionais, mas devem pensar também nesse impacto em nível nacional. Se não forem construídas as usinas, teremos racionamento e, portanto, um grave problema social. Empregos deixarão de ser criados. Na dimensão ambiental, estaremos construindo usinas a carvão ou a óleo, que têm impactos na escala ambiental muito piores. (Gustavo Paul)