Título: O discreto articulador da CPMF
Autor: Braga, Isabel; Beck, Martha
Fonte: O Globo, 10/12/2007, O País, p. 3

Marcos Lima, subsecretário de Assuntos Parlamentares, exerce função que foi de Waldomiro Diniz.

BRASÍLIA. As negociações da CPMF no Senado revelaram mais um personagem do bastidor político de Brasília, que carrega o estigma de exercer a mesma função que Waldomiro Diniz - o ex-assessor de José Dirceu que cobrou propina de um empresário do setor de jogos e ficou conhecido como protagonista do primeiro escândalo do governo Lula. Responsável por acertar a liberação de emendas dos parlamentares e defender os interesses do Planalto no Congresso, o subsecretário de Assuntos Parlamentares, Marcos de Castro Lima, tem um estilo discreto de atuar, mas mesmo assim coleciona desafetos na Câmara e no Senado.

Há cerca de dez dias, o senador Geraldo Mesquita (PMDB-AC) subiu à tribuna para acusá-lo de "assédio imoral" e tentativa de corrupção. Segundo Mesquita, Marquinhos, como é chamado por parlamentares governistas e de oposição, prometeu liberar suas emendas ao Orçamento da União em troca do voto a favor da prorrogação da cobrança da CPMF até 2011. O senador disse que Lima, depois de ter telefonado várias vezes para seu gabinete, foi pessoalmente ao Senado.

Antes de Mesquita, o deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO) denunciou a atuação de Lima na votação da CPMF na Câmara. Caiado reclamou que o assessor estava no plenário articulando a favor do governo. Lima também não tem boa imagem entre os aliados do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Na eleição para a presidência da Câmara, ele atuou a favor do petista Arlindo Chinaglia (SP), oferecendo emendas e cargos para deputados que mudassem o voto.

Alertado pelo deputado Ciro Nogueira (PP-PI), Aldo telefonou para o então ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, e avisou que, se Lima não fosse retirado imediatamente do plenário, ele subiria à tribuna para denunciar a cooptação.

Ex-assessor do PT na Câmara Municipal de Salvador e da Assembléia Legislativa da Bahia, Lima chegou ao governo a convite do então ministro do Trabalho, Jaques Wagner. O petista sobreviveu a quatro ministros da articulação política.

- Este ministério é tão competente e está tão pronto que o Jaques veio, depois veio o Tarso, e as pessoas estão lá: Marcos Lima (...). É um conjunto de pessoas altamente qualificadas e competentes - disse Walfrido dos Mares Guia, ao assumir a Secretaria de Relações Institucionais, hoje comandada por José Múcio Monteiro.

Laços de família influenciam Lima quando acerta a liberação de dinheiro do governo para os municípios. Casado com a gaúcha Francine Moor, tem se empenhado para obter recursos para Santo Ângelo, na região das missões, terra natal de sua mulher e onde moram seus sogros - a vereadora petista Fátima Moor e Estevão Moor.

Tanto aliados como oposicionistas dizem que Lima é uma pessoa decente e em nada se assemelha a Waldomiro. Apenas ressaltam que, ao contrário do antecessor, não tem autonomia.

- O Marcos é muito atencioso, mas não tem autonomia. É só um intermediário do Parlamento com o governo. Ele atende bem os parlamentares, mas quem decide é o ministro das Relações Institucionais com os ministros da área requisitada. Não dá para comparar com o Waldomiro. Ele não tem capacidade de decisão - diz o líder do PR na Câmara, Luciano Castro (RR).

- O Marquinhos é uma pessoa decente - resume o deputado Beto Albuquerque (PSB-RS), vice-líder do governo na Câmara.

Da oposição, o também baiano Jutahy Júnior (PSDB) reconhece méritos na atuação de Lima. Afirma que o assessor sempre foi correto.

Arredio aos holofotes, Lima não quis falar com O GLOBO. A assessoria da Secretaria de Relações Institucionais disse que o trabalho de Lima segue as determinações da medida provisória e do decreto de criação e estruturação do órgão. Entre suas tarefas, segundo a assessoria, estão o acompanhamento da liberação de emendas particulares e dos projetos de interesse do governo em tramitação no Congresso.