Título: Lula parte para o corpo-a-corpo
Autor: Braga, Isabel; Beck, Martha
Fonte: O Globo, 10/12/2007, O País, p. 3

Presidente procura senadores para tentar garantir aprovação da CPMF amanhã.

Na véspera da votação da emenda da CPMF no Senado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva entrou pessoalmente no corpo-a-corpo para tentar garantir os 49 votos necessários para a prorrogação do tributo. Antes de viajar para Buenos Aires, ontem, o presidente já ligou para alguns senadores, segundo um de seus auxiliares. Os números, no entanto, são apertados, e mesmo aliados não descartam a possibilidade de o governo anunciar novas medidas de desoneração tributária ou de mais recursos para a saúde, capazes de atrair votos da oposição.

A avaliação sobre o quadro será feita hoje. Apesar do trabalho intenso no fim de semana, os aliados preferem ser cautelosos. O governo conta com 46 votos e as projeções que mostram mais de 49 votos incluem apoios que não estão garantidos. Governadores do PSDB, favoráveis à prorrogação da CPMF, tentam convencer senadores que estariam dispostos a votar a favor. Mas a tendência é a bancada tucana votar unida contra a CPMF.

- Só amanhã (hoje) deve se saber se dá para conquistar os votos que faltam na base ou se o presidente anunciará uma proposta mais ampla, para atrair a base e a oposição - afirmou o líder do PMDB, Valdir Raupp.

O ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, trabalhou durante todo o fim de semana. Conta com a ajuda de vários governadores da base aliada, como Eduardo Campos (PE), Wellington Dias (PI) e Alcides Rodrigues (GO). Na noite de sábado, Múcio se encontrou com o presidente e pediu que ele interferisse em alguns casos. Ontem à tarde, Múcio voltou a conversar com Lula sobre o quadro e as dificuldades para a votação marcada para amanhã.

Sem querer citar números, o ministro reafirmou seu otimismo:

- Agora é a hora de cada senador conversar com sua consciência. Temos que despartidarizar esse debate. Não estamos pedindo mais dinheiro para a saúde, estamos é tirando dinheiro de programas importantes. Sou otimista. O presidente também está, mas continuamos trabalhando.

DEM ameaça punir quem votar a favor

Com a dificuldade do governo em garantir os votos, aumenta a pressão da base aliada. Para o senador Wellington Salgado (PMDB-MG), muitas das resistências têm como pano de fundo a força que os parlamentares adquirem em negociações importantes e serão dirimidas na votação:

- Tem muita gente que já sabe que vai votar sim, mas quer atender o estado. Esse é o único momento em que o senador sabe que tem força. Mas, na hora de apertar o botão, pesa o que é importante para o estado.

Um dos apoios que o governo busca é o do senador Expedito Júnior (PR-RO). Já há uma conversa marcada entre o governador do estado Ivo Cassol, e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, para tentar resolver dois pedidos: a negociação da dívida de R$900 milhões do banco estadual e a incorporação ao quadro de funcionários da União dos servidores dos antigos territórios. Mas há também pedidos por indicações para cargos no Dnit e até na direção da Petrobras.

A oposição reclama da pressão dos governadores sobre seus parlamentares. O líder do DEM, José Agripino Maia (RN), ligou ontem para o senador Jonas Pinheiro (MT) para conversar sobre os boatos de que votaria a favor da CPMF para atender ao pedido do governador de Mato Grosso, Blairo Maggi. Pinheiro disse ao líder que discutiria isso hoje, em reunião do diretório estadual. Agripino lembra que o partido fechou questão contra a prorrogação e que há sanções no estatuto do DEM para quem descumprir, inclusive com a perda de mandato.

- Se algum senador, motivado por pressão de qualquer ordem, descumprir o compromisso, o partido terá que tomar atitudes. Mas não acredito que vá acontecer.

Para Agripino, o tempo de novas propostas capazes de mudar o voto da oposição já passou. Ele afirma que isso teria que ter sido feito quando a emenda ainda estava na Câmara. Nas conversas que tem tido com tucanos, percebe o mesmo sentimento. Além disso, ressalta, o governo tem feito promessas e voltado atrás, o que tira a credibilidade de qualquer proposta.

- O governo sentou com a oposição, prometeu mandar a reforma política e na maior desfaçatez descumpriu. A palavra dessa turma tem um limite, e esse limite já passou.

Na tentativa de vencer as resistências, o governo preparou um pacote de medidas de desoneração do setor produtivo. Segundo o secretário de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, as medidas são essenciais para estimular o investimento produtivo, mas só serão anunciadas caso o governo não tenha que abrir mão dos R$40 bilhões da arrecadação da CPMF:

- Se isso (CPMF) não sair, o pacote de desonerações também não tem condições de ser anunciado.

Segundo Barbosa, uma das ações será reduzir o percentual que as empresas precisam exportar para ter isenção de PIS/Cofins e Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) na compra de máquinas e equipamentos. Esse percentual é de 80%, mas para alguns setores, como os prejudicados pelo câmbio, fica em 60%. Barbosa disse que o percentual de 60% poderia ser definido como regra para todos. O governo também pretende ampliar a lista de produtos isentos do IPI.

Colaborou Gustavo Paul