Título: Decisão do Senado foi um erro, diz Pochmann
Autor: Paul, Gustavo
Fonte: O Globo, 14/12/2007, O País, p. 15

Presidente do Ipea, porém, vê alternativas para extinção da CPMF, como redução da Selic.

BRASÍLIA. O presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Márcio Pochmann, considerou ontem um erro a decisão do Senado de acabar com a CPMF. O economista - conhecido por ser um dos mais aguerridos desenvolvimentistas da atual equipe de governo - argumentou que a CPMF é um imposto com custo muito baixo e moderno, porque facilita a fiscalização, sobretudo num país com poucas condições de combate à sonegação.

Pochmann lembrou que é a primeira vez, desde a implementação da política de ajuste fiscal - no governo Fernando Henrique -, que o país se vê diante de uma situação de queda de receita:

- A CPMF faz parte de uma trajetória de expansão da arrecadação - afirma.

Ele ressaltou, no entanto, que a extinção da contribuição não é um problema insolúvel e que há alternativas para repor a arrecadação perdida sem sobrecarregar os trabalhadores e o setor produtivo. Por exemplo, receitou, os ministérios da Fazenda e do Planejamento poderiam retomar a cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre os recursos estrangeiros que são aplicados na Bolsa de Valores.

Um caminho alternativo, defendeu Pochmann, seria o Banco Central voltar a reduzir a taxa básica de juros Selic, movimento interrompido em outubro último após dois anos consecutivos de reduções. Crítico histórico do que chama de conservadorismo da autoridade monetária, ele defendeu que, com novos cortes, o volume de recursos pagos da dívida pública seria reduzido. No Orçamento de 2008, estão previstos gastos com os encargos do endividamento de R$152,2 bilhões - quase dez vezes os investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Investimentos devem ser sacrificados, crê economista

Ressaltando que a decisão das medidas para cobrir o rombo é das áreas de Planejamento e da Fazenda, Pochmann considera que o governo não deverá reduzir as despesas na área social, como saúde, Previdência e assistência social.

- Dificilmente o governo vai tirar dinheiro do Bolsa Família, pois seria uma interrupção na tendência de inclusão social. São áreas estratégicas para o governo e, por isso, outras (áreas) vão ser chamadas para contribuir - diz Pochmann, sugerindo que a área de investimentos poderá ser sacrificada. (Gustavo Paul)