Título: Socióloga diz que vai cobrar ética do partido
Autor: Aggege, Soraya
Fonte: O Globo, 18/12/2007, O País, p. 11

Maria Benevides compara mensalão a tumor; para Francisco Oliveira, PT não fará revisão.

SÃO PAULO. Reconduzido à presidência do PT, Ricardo Berzoini terá que usar o retrovisor e olhar para os erros do passado caso queira realmente retomar o caminho da ética. A avaliação é da socióloga Maria Vitória Benevides, integrante do grupo Mensagem ao Partido, que foi derrotado no primeiro turno e migrou parcialmente para a campanha de Berzoini no segundo. Maria Vitória compara o caso do mensalão, que atingiu o partido em 2005, a um câncer:

- Ou procuramos e removemos as causas, ou o tumor reaparecerá em outro lugar. O grupo de Berzoini precisa parar de dizer que não vai olhar o partido pelo retrovisor. Precisamos muito de uma discussão clara daquela crise.

Para Maria Vitória, Berzoini herdou boa parte dos votos do Mensagem, que defendeu uma revisão ética do PT:

- O partido, no seu projeto, defende o Orçamento Participativo, mas na própria máquina não tem havido discussão sobre mecanismos financeiros internos. Berzoini tem o compromisso de retomar mecanismos de democracia interna - afirmou.

Para ela, o PT não poderá mais colocar "panos quentes" nos escândalos de 2005.

- Temos que enfrentar a realidade ou estaremos adotando a velhíssima máxima de que "os fins justificam os meios". Temos sim que discutir 2005. Um tumor só é extirpado quando se procuram suas causas. Precisamos olhar, julgar e punir. Não colocar uma pedra em cima. Se isso não for feito, o PT continuará comprometido. Nós vamos cobrar isso de Berzoini - disse.

"Não vejo mudanças no PT", diz Francisco Oliveira

O sociólogo Francisco Oliveira, ex-petista, tem uma análise diferente. Ele disse que o PT não é mais capaz de fazer uma revisão ou uma retomada da ética:

- Não vejo mudanças no PT. O Campo Majoritário (atual CNB - Construindo Um Novo Brasil) continua a mesma coisa. Não creio que o PT ainda fará uma revolução da ética. O PT já perdeu essa aura e também essa oportunidade - disse.

Para Oliveira, o PT não tem correntes com forças suficientes para retomar a ética:

- Não se trata de farsa ou de manobra. Mas as correntes (de oposição) têm apenas discussão e retórica. Isso não leva a uma renovação ética.

Segundo o sociólogo, o PT se comporta como mais um partido que quer as benesses governamentais:

- O PT quer disputar espaços no governo, não idéias. Hoje tem semelhanças com outros partidos, inclusive o PSDB.