Título: Uma mãozinha para a central ligada ao PDT
Autor: Souza, Isonilda
Fonte: O Globo, 08/01/2008, O País, p. 8

CUT diz que o ministro Lupi ajudou Força Sindical a criar novo sindicato.

BRASÍLIA.Depois de receber em dezembro um ultimato da Comissão de Ética Pública, que exige que ele deixe de acumular o cargo no governo com a presidência do PDT, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, virou alvo de sindicatos ligados à Central Única dos Trabalhadores (CUT). Ele é acusado por sindicatos de frentistas de usar o cargo para favorecer a criação de uma nova entidade filiada à Força Sindical. A central é controlada por políticos do PDT. No último dia 26, a Comissão de Ética Pública pediu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva a demissão do ministro, que se recusa a deixar o comando do partido. Os integrantes da Comissão de Ética ameaçam sair se a recomendação não for seguida.

No centro da nova polêmica, está o registro do Sindicato dos Empregados em Postos de Serviços de Combustíveis e Derivados de Petróleo do Rio (Sinpospetro-RJ), outorgado por Lupi no início de novembro. Segundo reportagem publicada ontem no "Correio Braziliense", Lupi teria ignorado liminar concedida em agosto de 2005 pela 37ª Vara do Trabalho do Rio, que desautorizou a nova entidade (filiada à Força Sindical) a negociar em nome dos frentistas do estado. Lupi debitou a briga à disputa pelo imposto sindical e negou irregularidades na concessão do registro.

- Vocês não vão encontrar atos do ministro Carlos Lupi que não sejam republicanos e transparentes. Ninguém do PDT me pediu nada disso aqui - afirmou.

Lupi disse ter se baseado numa decisão de 2004 do Supremo Tribunal Federal, que permitiu o desmembramento da Federação Nacional dos Trabalhadores no Comércio de Minério e Derivados de Petróleo, fundada em 1953 e controlada pela CUT. O julgamento permitiu a criação de uma federação de frentistas ligada à Força Sindical e ao sindicato, cujo registro saiu em novembro. Lupi alegou que a liminar foi ganha numa disputa comercial.

O presidente da federação ligada à CUT, Raimundo Miquilino, disse que a concessão dos novos registros contraria o princípio da unicidade sindical, estabelecido pela Constituição, para que a mesma categoria não seja representada por sindicatos diferentes. Ele acusou Lupi de mobilizar técnicos do ministério para dar pareceres favoráveis à criação de entidades ligadas à Força Sindical:

- O Ministério do Trabalho não pode dar pareceres para fortalecer uma central sindical. Estão tentando esvaziar uma central para encher o papo da outra.

Lupi voltou a dizer que não deixará o ministério ou a presidência do PDT. Ele se declarou vítima de um "bombardeio de pressões" e citou o ex-governador Leonel Brizola, fundador do PDT, para justificar o acúmulo de cargos.

- Era mais fácil fingir que não estou mais na direção do partido, mas não sou hipócrita. Brizola dizia ser como uma plantinha no deserto, que sobrevive com uma gota de orvalho. Eu sou cana de canavieira. Nem queimada nem facão arrancam a minha raiz. Nasço na sombra ou no sol.