Título: Lula diz que alerta sobre risco de apagão é boato
Autor: Gois, Chico de; Ordoñez, Ramona
Fonte: O Globo, 15/01/2008, Economia, p. 17

Justiça manda afastar 4 mil terceirizados de Furnas. Funcionários fazem greve, que pode causar blecautes hoje.

BRASÍLIA e RIO. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi enfático ontem, em seu programa semanal de rádio, ao negar que o país corre risco de apagão este ano. Lula qualificou como boatos as avaliações feitas semana passada - inclusive pelo diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Jerson Kelman - de que, caso não chova o suficiente este mês, pode haver racionamento em 2008. Ele defendeu que o gás disponível no país seja prioritariamente destinado às usinas termelétricas, em detrimento, inclusive, dos automóveis movidos a GNV.

- A questão energética vive de boatos. Todo dia tem boatos de que vai acontecer isso, vai acontecer aquilo. O dado concreto é que o Brasil está seguro de que não haverá apagão e de que não faltará energia para dar sustentabilidade ao crescimento que nós queremos ter no Brasil - declarou.

Lula citou a falta de gás veicular, no fim de 2007, em postos do Rio e de São Paulo para expressar que há um exagero na abordagem da questão:

- Eu lembro que, quando aconteceu o problema do gás no Rio de Janeiro, se criou uma celeuma, tinha até uma reportagem que mostrava um cidadão empurrando um carro, quando, na verdade, ele deveria ter ido ao posto, ter colocado gasolina, ou ter colocado álcool.

- O gás, a preferência dele, é para gerar energia elétrica. Se tiver sobrando gás, nós poderemos atender os carros, poderemos atender as empresas, mas é importante definir que a prioridade é servir, é produzir energia para atender aos interesses da sociedade.

No ano passado, porém, Lula disse que o consumidor não podia ser prejudicado pela falta de gás, porque foi incentivado a usá-lo.

Furnas: decisão põe em risco estabilidade da empresa

Os funcionários de Furnas Centrais Elétricas, maior geradora de energia do país, vão fazer uma paralisação hoje de 24 horas, o que eleva os riscos de apagões localizados. A paralisação é contra decisão da juíza Larissa Lobo, da 8ª Vara do Tribunal Regional do Trabalho de Brasília, que determinou o afastamento dos cerca de 4.300 terceirizados e prestadores de serviços da empresa, de um total de 6.400 funcionários. Eles devem ser substituídos pelos concursados aprovados em 2004 (cerca de 4.000 pessoas). Furnas ainda pode recorrer da decisão.

Com o protesto, o risco de apagões aumenta porque, caso ocorra alguma falha nos equipamentos, seja nas usinas, nas linhas de transmissão ou nas subestações, a falta de pessoal poderá agravar a situação.

O presidente da Associação dos Contratados, Ex-Contratados e Prestadores de Serviços em Furnas (Acep), Carlos Arthur Coelho, disse que a possível saída de um número tão elevado de funcionários, muitos com quase 15 anos de empresa, pode inclusive prejudicar o andamento das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) que estão a cargo de Furnas:

- Essas pessoas têm a memória da companhia. E o sistema pode ter problemas, porque muitos desses empregados são da área de operação e manutenção do sistema.

Em nota, Furnas também alerta para os riscos que o afastamento imediato dos contratados poderá causar para o sistema elétrico do país: "O desligamento repentino de milhares de colaboradores representaria sério risco à estabilidade das operações da empresa, neste setor essencial e de utilidade pública que é a geração e transmissão de energia elétrica".

Outras paralisações estão previstas para este mês

A empresa informa que vem fazendo a substituição de contratados por concursados de forma gradual desde 2004. Já foram admitidos mais de 1.600 concursados dessa maneira, segundo a estatal. Com isso, do total de empregados em 2006, os concursados seriam 4.525, o que reduziria para cerca de 2 mil os terceirizados.

O presidente da Acep disse que o movimento vai continuar. Nos próximos dias 22 e 23, todos os empregados de Furnas farão uma paralisação de 48 horas. Já está prevista também uma paralisação de 72 horas nos dias 29, 30 e 31. Caso a ameaça de afastamento dos contratados continue, o sindicato da classe (Sinterj) e a Acep prometem fazer greve por tempo indeterminado.

Na nota divulgada ontem, Furnas ainda informa que está acompanhando o processo judicial que envolve o seu quadro de empregados e que qualquer medida a ser adotada será de estrito respeito à legislação e à Justiça.

A Justiça rejeitou dois pedidos da Acep para que os trabalhadores ficassem na empresa por dez anos e que, sendo liberados os concursos públicos, eles fossem sendo substituídos de acordo com a necessidade da estatal. A juíza tomou a decisão em audiência realizada no dia 19 de dezembro. Furnas passou a contratar pessoal terceirizado em grande escala em meados década de 1990, por ter sido proibida de fazer concursos.