Título: Lula visita Fidel e diz ter paixão pela revolução
Autor: Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 16/01/2008, O País, p. 12

Presidente tem encontro cercado de mistério com líder cubano, e diz que ele está "pronto para assumir seu papel político"

Luiza Damé

HAVANA. Depois de quase um dia inteiro de expectativa, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou ontem o presidente de Cuba, Fidel Castro, internado desde julho de 2006 por problemas de saúde. O encontro, que durou cerca de duas horas e meia, foi cercado de mistério e só pôde ser registrado por fotógrafos do governo cubano. À noite, pouco antes de embarcar para o Brasil, Lula disse que Fidel "está com uma lucidez incrível":

- Estive com Fidel por duas horas e meia e conversamos sobre todos os assuntos. É um homem que está com uma lucidez incrível, uma saúde impecável. Se um dia eu ficar doente, quero ter a mesma capacidade de falar que Fidel teve comigo.

O presidente disse achar que Fidel está pronto para reassumir seu papel político:

- Fidel falou duas horas e eu falei meia. A impressão que eu tenho é que Fidel está muito bem de saúde. Está com uma lucidez e logo, logo vai se recuperar fisicamente. Penso que Fidel está pronto para assumir o papel político que tem em Cuba, e o papel político que tem na história do mundo globalizado.

Às 21h (meia-noite em Brasília), assessores de Lula exibiram as primeiras fotos do encontro, repassadas pelo governo cubano. Fidel, de barba curta e aparentemente bem de saúde, aparece de frente para Lula. Antes do encontro, o presidente afirmou ser "apaixonado pela revolução cubana" e disse que torce pela recuperação de Fidel.

- Tenho carinho especial por Fidel. Visito Cuba desde 1985, portanto há 23 anos. Houve tempo em que vinha a Cuba todo ano. Espero que Fidel tenha uma recuperação extraordinária - disse Lula.

Na visita de 24 horas, Lula assinou oito acordos de cooperação com Cuba - mais modestos do que esperavam os cubanos - e evitou entrar em polêmicas sobre a política interna do país. Lula destacou a adesão dos cubanos a tratados da ONU sobre direitos civis e políticos, mas não comentou as restrições impostas aos cubanos pelo governo:

- Não damos palpite na política de nenhum país. A autodeterminação dos povos é sagrada. Da mesma forma que não queremos que as pessoas dêem palpites nas coisas do Brasil.

Lula disse que o governo brasileiro não contribuiria para cercear a liberdade das pessoas, mas também não incentivaria "pirotecnias anticubanas".