Título: No Congresso, clima de apreensão
Autor: Camarotti, Gerson; Tavares, Mônica
Fonte: O Globo, 18/01/2008, O País, p. 3

Para Casagrande, da base governista, senador não deveria assumir o ministério.

BRASÍLIA. A mistura das confusões empresariais do filho suplente, Edison Lobão Filho (DEM-MA), com a ameaça de apagão de energia em 2008 e a queda-de-braço ferrenha entre PT e PMDB pelo comando político das bilionárias verbas do PAC no Ministério de Minas e Energia provocou reações contra a nomeação de Edison Lobão (PMDB-MA) até na base governista. Os aliados e os líderes da oposição temem que a conjunção de problemas políticos com denúncias de corrupção envolvendo a família Lobão afetem a gestão da pasta num momento delicado.

- Não digo que seja por falta de competência ou falta de experiência na área. Mas eu, se fosse o Lobão, não assumiria o ministério agora de jeito nenhum. O ambiente para ele é péssimo, muito negativo. Tem contra ele a imagem de que não entende da área estratégia para evitar o apagão, tem as denúncias políticas e a disputa com o PT - adverte o líder do PSB no Senado, Renato Casagrande (ES).

- Lobão faz uma boa rima com apagão. Fora a rima, não há nenhuma outra relação dele com o Ministério das Minas e Energia. O presidente Lula, se tivesse mais sensibilidade, se preocuparia menos com a rima do que com o apagão. Esse é um problema muito sério - ironizou o líder do PSDB na Câmara, Antônio Carlos Pannunzio (SP).

Na mesma linha, o vice-líder do PPS na Câmara, Arnaldo Jardim (SP), afirmou que, com a indicação de Edison Lobão, o presidente Lula mostra que desconsidera totalmente o risco iminente de um apagão energético no país, e dá mais uma prova de que seu governo se rendeu ao fisiologismo político. O deputado disse que Lula está beirando a irresponsabilidade com a escolha.

- A nomeação do senador Lobão, que não tem nenhuma familiaridade e experiência na área, obedece e, evidencia mais uma vez, a lógica de arranjos políticos fisiológicos desse governo - criticou Arnaldo Jardim, integrante da Comissão de Minas e Energia da Câmara.

DEM espera de Lobão Filho explicações sobre denúncias de sonegação

O líder do DEM no Senado, Agripino Maia (RN), está às voltas com as explicações que Lobão Filho promete entregar ao partido na semana que vem, sobre as denúncias de uso de laranjas e sonegação milionária de impostos no Maranhão. O futuro senador ainda está filiado ao partido, mas pode ser expulso se suas explicações não forem convincentes.

- Por essa nomeação, do Lobão pai para o Ministério das Minas e Energia, neste momento delicado, quem tem que responder pelas conseqüências é o presidente Lula - disse Agripino.

Classificando as denúncias contra Lobão Filho como perseguição política, o senador Lobão afirmou esperar que os problemas do filho não atrapalhem seu trabalho à frente da pasta de Minas e Energia. Mas admite que será um problema a ser administrado.

- Espero que não atrapalhe, mas que toma muita energia, toma - afirmou.

O ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, tentou ontem responder às críticas. Ele afirmou que o Ministério das Minas e Energia não poderia ficar mais tempo com um interino no comando, e que o perfil político, e não técnico, de Lobão não representa um problema:

- A pior coisa é quando as coisas demoram a ser resolvidas. Estamos vivendo um momento diferente de 2001 (ano do apagão energético, no governo Fernando Henrique). O sistema brasileiro é absolutamente interligado. Você pode gerar energia no Sul e distribuir em Roraima e vice-versa - justificou.

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