Título: Conselho recomenda pluralidade à TV pública
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Fonte: O Globo, 18/01/2008, O País, p. 10

Debate em que cassação da concessão da venezuelana RCTV foi considerada "normal" motivou reação de conselheiro

SÃO PAULO. Uma moção pedindo "pluralidade de versões em toda a programação" foi aprovada pelo Conselho Curador da TV Brasil, assim como o regimento interno do órgão. Os conselheiros querem que os assuntos em pauta priorizem o contraditório, dando oportunidade para que todas as linhas de raciocínio sobre um determinado tema sejam expostas. A moção foi aprovada terça-feira, quatro dias após um dos conselheiros, José Paulo Cavalcanti Filho, alertar a diretoria da TV sobre o conteúdo apresentado no programa "Ver Tudo", em que os três debatedores trataram como "normal" a não-renovação, pelo governo de Hugo Chávez, da concessão à rede de TV venezuelana RCTV.

O presidente do Conselho Curador, Luiz Gonzaga Belluzzo, confirmou ontem a moção, mas disse que ela não foi aprovada como represália à forma como o programa foi conduzido, mas como resultado de uma orientação defendida pela diretoria da TV desde a sua inauguração, ano passado.

- De maneira nenhuma estamos dando um pito em quem quer que seja, mas se a TV é pública, feita com o dinheiro do povo, todas as versões devem ser representadas. Só se convence pelo argumento, e não pela ameaça. A TV pública deve priorizar todas as divergências - disse Belluzzo.

Na reunião em que a moção e o regimento foram aprovados estavam a presidente da TV Brasil, Tereza Cruvinel, e os ministros de Comunicação Social, Franklin Martins; de Cultura, Gilberto Gil; e de Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende. Segundo o regimento aprovado, o presidente do Conselho só poderá ser reeleito uma vez e todas as reuniões serão públicas.

Belluzzo disse que mesmo os assuntos considerados mais espinhosos pelo governo federal devem ser tratados com a pluralidade exigida pela diretoria. A transposição do Rio São Francisco é um deles:

- Seja a questão dos transgênicos ou da clonagem, o debate é público. Até mesmo no que diz respeito à transposição do Rio São Francisco, precisamos estabelecer critérios para que todas as versões sejam colocadas. A TV também tem que ouvir quem é contra. Temos que ser democráticos - disse Belluzzo, frisando que uma relatoria é encarregada de fazer correções, dentro da programação da TV Brasil.