Título: Bogotá e Caracas em batalha verbal
Autor:
Fonte: O Globo, 18/01/2008, O Mundo, p. 28

A CRISE DOS REFÉNS

Colômbia exige respeito de Chávez e Venezuela diz que Uribe é "obcecado por guerra"

BOGOTÁ e CARACAS

Atroca de ofensas e acusações entre os governos de Colômbia e Venezuela se agravou ontem. Diversos integrantes do governo colombiano rechaçaram as atitudes do presidente venezuelano, Hugo Chávez, acusando-o desde faltar com o respeito com Bogotá até de intervencionismo, além de ironizá-lo por suas acusações de que se planeja um atentado contra ele na Colômbia. Já o governo venezuelano afirmou que a Colômbia está desesperada e, desafiadoramente, que continuará a agir naquele país para "regularizar" o conflito contra as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

Utilizando tom inédito nas recentes trocas de acusações entre os governos, o Ministério do Exterior da Colômbia emitiu ontem um comunicado dirigido à Chancelaria venezuelana no qual pede respeito do presidente Hugo Chávez, que "confunde a cooperação com a ingerência, como confundiu a mediação com a parcialização".

"O presidente Hugo Chávez não perde oportunidade de maltratar a Colômbia, seu governo e os dirigentes colombianos. Desconhece a ação terrorista da guerrilha, sua participação no narcotráfico, seus crimes contra crianças, mulheres e idosos, o seqüestro e dos demais delitos".

O presidente Alvaro Uribe não fez qualquer declaração ontem, mas seu vice, Francisco Santos, arremeteu contra Chávez.

- Ele é grosseiro com a dignidade do governo e dos colombianos - afirmou Santos, que acusou Chávez de confundir "mediação com intervencionismo".

Ministro diz que não há prova de complô

Como resposta, o governo da Venezuela divulgou dois comunicados, nos quais ataca a Colômbia e afirma que continuará a intervir em assuntos colombianos. Segundo nota divulgada ontem à noite pelo Ministério do Exterior venezuelano, a Colômbia não está comprometida com a paz:

"O tom ofensivo e desesperado do comunicado colombiano é expressão da debilidade de um governo rodeado de escândalos, dezenas de aliados de mais alto nível vinculados ao presidente Uribe hoje se encontram atrás das grades por delitos de terrorismo, e narcotráfico. O governo colombiano não está comprometido com a paz, mas sim obcecado em derrotar militarmente as forças insurgentes, obcecado com a guerra."

O termo "forças insurgentes" foi usado propositalmente, pois Chávez solicitou ao governo colombiano e à comunidade internacional que deixem de considerar as Farc um grupo terrorista. Ontem à noite, a Assembléia Nacional venezuelana respaldou a proposta de Chávez, reconhecendo, dessa forma, as Farc e o Exército de Libertação Nacional (ELN) como "grupos beligerantes".

O governo venezuelano afirmou também que os efeitos do conflito na Colômbia na região "justificam qualquer medida que, no âmbito do direito internacional, o governo bolivariano possa tomar para regularizar essa situação".

Quanto às acusações feitas pelo venezuelano de que há um complô de oficiais colombianos e americanos para matá-lo, a reação foi mais de ironia do que de indignação.

- Não damos a elas (as acusações) nenhuma importância, nenhuma validade. Estamos acostumados a ouvir esse tipo de acusações - disse o ministro da Defesa da Colômbia, Juan Manuel Santos, que pediu provas. - São acusações sem fundamento que se repetem de tempos em tempos.

As declarações de Santos foram feitas durante uma entrevista coletiva em Bogotá na qual ele estava ao lado do chefe do Estado-Maior Conjunto dos Estados Unidos, o almirante Michael Mullen. O americano também respondeu a Chávez:

- Não existem provas. Esse tipo de coisa (acusações de Chávez) persiste há muito tempo e, nesse sentido, desde o ponto de vista dos EUA, não damos muita atenção a ele.