Título: Estudo médico relaciona vacina a duas mortes
Autor: Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 19/01/2008, O País, p. 9

Casos modificaram política de imunização em massa no Brasil.

SÃO PAULO. A vacina contra a febre amarela já foi relacionada à morte de pelo menos duas pessoas no Brasil: uma menina de 5 anos e uma mulher de 22, em 1999 e 2000, respectivamente. Os casos, chamados clinicamente de "eventos adversos da vacina 17DD", mudaram a estratégia do Ministério da Saúde na época, que era a vacinação em massa. As mortes foram reportadas por cientistas brasileiros na revista médica "The Lancet", em 2001, ao lado de outros casos ocorridos em razão da vacina.

A garotinha vivia em Goiânia e tomou a vacina em 8 de outubro, no mesmo dia em que tomou uma injeção contra a rubéola. Três dias depois, teve diarréia, vômito, febre alta. A menina morreu, com problemas cardiorrespiratórios.

A mulher era de Americana, interior de São Paulo. Ela se vacinou durante uma campanha contra a febre amarela, já que em 2000 a doença havia chegado a áreas do estado. Quatro dias depois, sentiu dores no braço onde recebeu a injeção, dores de cabeça, na garganta e no corpo. Foi internada no hospital da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) com sintomas de leptospirose, dengue e efeitos adversos da vacina. Teve problemas de fígado, sintomas de pneumonia e meningite. Não resistiu e morreu.

Vacina tem eficácia de quase 100%

No Brasil, já haviam ocorrido eventos adversos relacionados à vacina, como encefalite em menores de nove meses. A média, segundo o artigo científico, é de um caso em 1 milhão em pessoas acima de nove meses de idade. As mortes surpreenderam os especialistas. A vacina tem quase 100% de eficiência. No período estudado, foram distribuídas 85 milhões de doses.

"À medida em que foram identificados eventos adversos graves associados a essa vacina, a estratégia inicial, de vacinação universal, teve que ser ajustada para uma cobertura mais focalizada, tanto em toda a área de circulação natural do vírus amarílico como na área de transição", diz o Guia de Bolso das Doenças Infecciosas e Parasitárias, publicado para profissionais da área pela Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, em 2006.

O guia afirma que, além da vacina, são necessárias ações multissetoriais para prevenção e controle, já que o caráter endêmico da doença se relaciona muitas vezes a fatores externos ao setor saúde, como urbanização sem adequada infra-estrutura, alterações ambientais, desmatamento, ampliação de fronteiras agrícolas, processos migratórios e grandes obras de infra-estrutura.

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