Título: Analistas: pacote não trouxe medidas concretas e efeito ainda demora
Autor: Frisch, Felipe
Fonte: O Globo, 19/01/2008, Economia, p. 20

Prazo para detalhamento do estímulo fiscal nos EUA será fundamental.

RIO, SÃO PAULO e WASHINGTON. O tão esperado pacote para livrar a economia americana de uma recessão simplesmente não existiu, pela falta de medidas concretas, já que todas precisam ser negociadas com o Congresso americano, e os Estados Unidos estão em ano eleitoral. Essa é a opinião de economistas brasileiros. Segundo eles, mesmo que seja implementado logo, os efeitos só devem se fazer sentir no segundo semestre ou no fim do ano. Para alguns analistas, a indefinição sobre o pacote não ajuda a desfazer o clima de incerteza e a volatilidade dos mercados mundiais deve persistir na próxima semana. E, quanto mais tempo o detalhamento do pacote demorar, pior será.

- Não houve pacote, o que Bush anunciou foi uma intenção de dar ajuda fiscal equivalente a 1% do PIB, entre US$130 bilhões e US$140 bilhões. E disse que agora vão negociar com o Congresso - disse o diretor da Modal Asset Management, Alexandre Póvoa.

Para analistas, a negociação pode ser difícil, por se tratar de ano eleitoral. No entanto, a maturidade da democracia nos EUA pode fazer a diferença. Isso porque a preocupação com o risco de recessão é geral - tanto de democratas quanto de republicanos.

Já para o economista- chefe da Uptrend Consultoria, Jason Vieira, o anúncio foi positivo:

- A expectativa era de um pacote de US$100 bilhões, e já se fala em US$140 bilhões.

Ele reconhece, porém, que, se o pacote virar realidade, não mudam muitas coisas no curto prazo:

- Há uma defasagem da redução de impostos (para fazer efeito na economia), mas isso pode proporcionar um fim de ano interessante. Foi importante deixar claro que, embora vários bancos já considerem uma recessão, não é.

Vieira explicou ainda que, em um processo de recessão, o desemprego estaria na faixa de 7%, não em torno de 5%:

- Com o estímulo fiscal, somado ao estímulo monetário (reduções de juros), num país com resposta tão rápida quanto os EUA, a tendência é positiva para o fim do ano.

Para Alessandra Ribeiro, da consultoria Tendências, não está claro que instrumento o governo Bush vai usar para colocar mais dinheiro na economia e ainda não se sabe quanto tempo o Congresso levará para aprovar as medidas. O tempo de ação, nesse caso, é fundamental, já que os efeitos de medidas fiscais sobre o nível de atividade não são imediatos. Por isso, se demorar muito, não haverá tempo para o PIB americano recuperar as perdas do atual período.

- É justificável a decepção. As expectativas com o anúncio do pacote sustentaram os índices pela manhã e parte da tarde, mas, como ele não veio, as bolsas caíram - diz ela.

Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, concorda que a demora continuará gerando volatilidade. Mas ele vê como positiva a movimentação do governo americano:

- O plano fiscal se alia às ações do Federal Reserve (cortando os juros) e do Tesouro (que tem recomprado títulos para dar mais liquidez à economia). Por essa razão, nossa expectativa é que a economia americana não entrará em recessão.

O economista-chefe do banco Schahin, Sílvio Campos Neto, concorda que a demora na definição do pacote alimenta a volatilidade, mas acha que a economia americana tem força para fechar o ano com expansão.

Um painel composto por economistas de bancos considera que os Estados Unidos têm 50% de probabilidades de entrar em recessão, devido a uma queda no setor imobiliário este ano. Segundo o Comitê de Assessoria Econômica da Associação dos Banqueiros Americanos (ABA), um grupo de nove economistas, os riscos de uma recessão estão aumentando.

(*) Com Ronaldo D"Ercole, Lino Rodrigues e agências internacionais