Título: Deputados explicam suas escolhas na hora de emendar o Orçamento
Autor: Menezes, Maiá; Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 20/01/2008, O País, p. 4

PRIORIDADES POLÊMICAS: "Foi uma retribuição a Minas", explica Cida Diogo.

Coordenador da bancada do Rio admite distorções e prega transparência.

BRASÍLIA e RIO. Mesmo genéricas e polêmicas, as emendas individuais ao Orçamento de 2008 estão menos sujeitas a distorções do que em outros mandatos, na avaliação do coordenador da bancada do Rio, Hugo Leal (PSC). O deputado sustenta que a transparência e a opção por criar uma comissão que acompanhará a execução das emendas diminuem os riscos de mau uso dos recursos. Mas admite: o perigo existe.

- Não vou dizer que a situação está maravilhosa, que não há possibilidade de desvio de recurso. Mas há um espírito diferenciado, de que tudo tem que ser fiscalizado - diz Leal, explicando que a maioria das emendas é detalhada apenas depois da liberação dos recursos.

Verbas para 16 municípios do Estado de São Paulo

Com a ajuda do falecido deputado Enéas, ainda no Prona, a ex-vereadora Suely Santana da Silva, a "Senhorita Suely", foi eleita deputada federal pelo Rio, mas preferiu agraciar com unidades médicas e de educação básica os eleitores de 16 municípios paulistas.

- Ela mandou toda a verba de suas emendas para São Paulo porque tem residência no Rio e em São Paulo - justificou sua assessora, Janaína Silva.

Alexandre Santos (PMDB), que fez doação para uma ONG na Paraíba, explica que o fez porque lá funciona a sede da entidade, que ele já presidiu.

Autor da emenda que destina R$1,5 milhão à construção de dois pórticos em Caxias, Bernardo Ariston (PMDB) argumenta que atendeu a um pedido do prefeito do município, Washington Reis, seu colega de partido:

- Não contemplei a minha base (Região dos Lagos) porque as prefeituras não estão habilitadas para receber os recursos.

O deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) diz que não faz proselitismo político com as emendas e prefere destinar sua cota para projetos nacionalistas ligados às áreas de saúde e militar. Ele explica a emenda de R$50 mil para o submarino nuclear:

- Prefeito aqui do Rio não me cobra emenda porque não transo com prefeito. Teria que votar com o governo para liberar, aí teria que me prostituir. Essa emenda do submarino é para abrir janelas e forçar mais suplementação de verbas.

A deputada Cida Diogo (PT-RJ) admite que fez uma troca ao destinar R$100 mil à ONG mineira Ações de Gênero e Cidadania, que fica em Andrelândia (MG):

- Foi uma retribuição a Minas. Quando era deputada estadual, o deputado Ivo José, do PT mineiro, atendeu um pedido meu e destinou R$300 mil de suas emendas a um projeto social em Volta Redonda, meu município eleitoral.

Leonardo Picciani (PMDB-RJ), que destinou grande parte de suas emendas para a construção de praças da juventude, também fez uma emenda de R$300 mil para União Nacional dos estudantes (UNE). Explica que, por ser jovem, procura atender ao público da sua faixa etária:

- Este é o terceiro ano que destino dinheiro para UNE. Fiz uma emenda individual para que dêem inicio à construção de um centro cultural na sede da Praia do Flamengo.

Edmilson Valentim (PCdoB), que também beneficiou a UNE, afirma que era do movimento estudantil. Autor de emenda que repassa recurso a uma ONG em São Paulo, diz que lá funciona a sede da instituição e que a verba será aplicada no Rio.

O deputado Índio da Costa (DEM-RJ) explicou por que decidiu destinar R$5 milhões para a construção de um edifício-sede, no Distrito Federal, para o Comando de Operações Táticas da Polícia Federal (COT/PF): o treinamento da polícia de elite (Bope), inclusive do Bope/Rio, é feito no DF, pelo COT. Hoje, além das passagens, o estado arca com hotéis e comida, o que reduz a freqüência dos treinamentos. A idéia é construir a sede do CT com alojamentos:

- Em geral, os deputados fazem emendas para agradar eleitor, uma ONG de um amigo, mas não beneficiam a sociedade como um todo. Concentrei minhas emendas no que acho ser o pior problema do Rio, a segurança.

Eduardo Cunha (PMDB-RJ) destinou R$380 mil para a Igreja do Tabernáculo Evangélico de Jesus, com sede em Taguatinga (DF). Ele explica que foi votado por fiéis dessa igreja - conhecida como Casa da Benção:

- A sede é em Brasília, por isso destinei para lá. Atendi o pedido porque a igreja votou em mim. Mas ela representa 4% do valor das outras emendas, todas para o Rio.

Manoel Ferreira (PTB), que doou para igrejas evangélicas, não foi encontrado pelo GLOBO. O deputado Carlos Santana (PT) não retornou as ligações. Marcelo Itagiba (PMDB) argumenta que as instituições israelitas para quem doou recursos atendem a pessoas necessitadas.

Otávio Leite, que destinou emendas para clube de chefes de cozinha, entidades de turismo e associação de escoteiros, afirma que decidiu privilegiar duas áreas - portadores de deficiência e o setor de turismo - e que a idéia foi fortalecer o turismo no Rio, com a realização de eventos. Segundo ele, destinar diretamente às instituições desburocratiza o processo.

A deputada Solange Amaral, pré-candidata do DEM à prefeitura do Rio, sustenta que destinou 100% das emendas para a capital "porque conhece bem as necessidades da cidade".