Título: Bush: 260 mentiras sobre Iraque em 2 anos
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Fonte: O Globo, 24/01/2008, O Mundo, p. 30

Estudo mostra que autoridades do governo dos EUA disseram 935 falsidades após 11 de Setembro e as usaram politicamente.

WASHINGTON. O presidente George W. Bush e seus principais assessores realizaram uma ¿campanha cuidadosamente orquestrada de desinformação¿ para convencer a opinião pública de que Saddam Hussein possuía armas de destruição em massa e tinha ligações com a rede terrorista al-Qaeda. Para chegar a tal conclusão, a organização sem fins lucrativos de jornalismo investigativo Centro para a Integridade Pública (CIP), de Washington, fez um levantamento de declarações públicas falsas do presidente e outras autoridades do governo nos dois anos posteriores aos ataques do 11 de Setembro. O estudo inédito encontrou 935 mentiras (mais de 380 mil palavras), num período de 730 dias, e um padrão que deixa claro que o número de falsidades aumentou sempre que elas eram politicamente interessantes para a Casa Branca.

Entre as principais mentiras de Bush, o estudo, assinado pelos jornalistas Charles Lewis e Mark Reading-Smith, aponta a afirmação do presidente no fim de setembro de 2002 em seu programa de rádio: ¿O regime iraquiano possui armas biológicas e químicas, está reconstruindo seus laboratórios para produzir mais e, de acordo com o governo britânico, pode deslanchar um ataque biológico ou químico em 45 minutos depois de a ordem ter sido dada. O regime está buscando uma bomba nuclear, e com material físsil pode construir uma em um ano¿.

O porta-voz da Casa Branca Scott Stanzel não comentou o conteúdo do estudo, mas disse que o governo e a comunidade internacional consideravam Saddam Hussein uma ameaça:

¿ As ações tomadas em 2003 se basearam no julgamento coletivo de agências de inteligência de todo o mundo.

O campeão de mentiras foi o presidente Bush, com 260. Entre outubro de 2001 e setembro de 2003, ele fez 232 falsas afirmações de que o Iraque possuía armas de destruição em massa e outras 28 declarações sobre ligações entre Saddam e a al-Qaeda. Em segundo lugar ficou o então secretário de Estado Colin Powell, com 244 mentiras sobre armas proibidas e dez sobre ligações entre al-Qaeda e Iraque.

O ex-secretário de Defesa Donald Rumsfeld e o então porta-voz da Casa Branca, Ari Fleischer empataram com 109 inverdades. As demais autoridades analisadas foram o ex-subsecretário de Defesa Paul Wolfowitz (85 mentiras), a então conselheira de Segurança Nacional e hoje secretária de Estado Condoleezza Rice (56), o vice-presidente Dick Cheney (algumas de suas 48 falsas afirmações estão entre as principais) e o ex-porta-voz Scott McClellan (14).

Agente da CIA, sobre Cheney: ¿de onde ele tirou isso?¿

O estudo não apenas torna acessíveis as mentiras, mas faz observações inéditas. Ele demonstra o padrão de repetição das falsidades em determinados períodos, como em agosto de 2002, quando o governo enviou ao Congresso o pedido de permissão para a invasão, e em fevereiro de 2003, um mês antes da guerra. Além disso, liga as frases ao que se sabia no momento em que eram proferidas, não apenas ao que se sabe hoje.

Por exemplo, em 26 de agosto de 2002, Cheney disse: ¿Não há dúvida que Saddam tem, agora, armas de destruição em massa. Não há dúvida de que está acumulando tais armas para usá-las contra nossos amigos, aliados e nós.¿ Fonte da CIA presente ao evento disse: ¿nossa reação foi, de onde ele tirou isso?¿