Título: FMI receita aumento de gastos
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 27/01/2008, Economia, p. 31

Para Strauss-Kahn, Brasil está em melhor posição para enfrentar a crise americana.

Odiretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn , juntou-se ontem aos pessimistas reunidos no Fórum Econômico Mundial de Davos, ao alertar que a desaceleração da economia americana ¿é séria¿ e que ela precisa ser tratada como tal. Indo na contramão da política do FMI, ele chegou a fazer um apelo para que algumas grandes economias afrouxem a política fiscal. Ou seja, gastem mais.

¿ Seja lá qual for a resposta para uma recessão, o que está claro é que haverá uma séria desaceleração (do crescimento americano), e é preciso uma resposta séria ¿- disse Strauss-Khan, diante de uma platéia de líderes empresariais do mundo todo.

Ele disse ao GLOBO que o Brasil está entre os países em melhor posição para enfrentar a crise americana. Mas alertou que o Brasil, assim todos os outros países, não vai escapar dos efeitos:

¿ O presidente Lula está certo. O Brasil está indo muito bem. Mas, como qualquer outro país, não está imune (à crise). A crise tem muitas conseqüências no mundo e pode também afetar um pouco o Brasil. Mas o país está numa posição muito forte. Portanto, as conseqüências podem não ser muito importantes.

A crise americana conseguiu uma proeza: fazer o FMI adotar um discurso à la Keynes, pregando um afrouxamento da política fiscal. Em outras palavras, a receita do FMI para sair da crise agora é gastar mais. Mas a crise atual e a conseqüente desaceleração no crescimento econômico, disse Strauss-Kahn, terão um efeito na queda de preços das commodities, e talvez uma redução nas cotações do petróleo. Com isso, a inflação cai, abrindo espaço para corte de juros e relaxamento fiscal.

¿ Não podemos só contar com política monetária. Alguns países não estão em condições de aumentar o déficit, mas outros estão numa boa posição, e há espaço para afrouxamento fiscal ¿ disse, negando-se a revelar os nomes dos países.

Strauss-Khan foi um dos personagens de destaque no principal debate de ontem em Davos, sobre as perspectivas para a economia mundial em 2008. O corte de taxas de juros, segundo ele, será possível por um motivo: a desaceleração econômica vai levar a uma queda de inflação, o que vai permitir aos bancos centrais baixarem juros.

Para amortecer a queda, o Fed, banco central americano, fez o maior corte de taxas de juros desde 1984 ¿ 0,75 ponto. Mas o Banco Central Europeu (BCE) tomou outro caminho, resistindo à pressão política sob o argumento de que é preciso manter o combate à inflação. A zona do euro enfrenta um dilema: não está crescendo muito, e ao mesmo tempo a inflação está aumentando. Para estimular crescimento, uma saída é corte de juros. Mas, para combater a inflação, o remédio é o oposto.

¿ Provavelmente haverá espaço (para corte de juros) nas próximas semanas ou próximos meses, dependendo dos preços das commodities e da redução da demanda ¿ disse Strauss-Kahn.

O FMI vai divulgar um relatório na próxima semana que, segundo o diretor do Fundo, vai mostrar que os países emergentes estão ¿relativamente bem¿, apesar da crise americana. Ele também fez um apelo para que haja uma solução global para a crise atual, que começou com problemas nas hipotecas de alto risco dos EUA.

Presidente do Citigroup continua otimista com o Brasil

Bill Rhodes, presidente do Citigroup ¿ um dos bancos, junto com o Merrill Lynch, que amargou duras perdas com a crise americana ¿ fugiu da imprensa no Fórum Econômico Mundial de Davos. Ontem, num rápido comentário nos corredores do encontro, ele disse que continua otimista em relação à economia do Brasil. Sobre se o banco continua interessado em investimentos no país, ele disse:

¿ Sempre estamos interessados em aumentar investimentos no Brasil.

Rhodes evitou a palavra recessão ao falar sobre a economia americana. De qualquer forma, seu cenário é mais otimista: redução de crescimento durante dois trimestres.

¿ Vai ter uma desaceleração. Creio que os EUA vão ter uma baixa de crescimento nos próximos dois ou três trimestres. E não está muito claro qual impacto isso vai ter na América Latina ou no Brasil, em particular ¿- disse.

MEIRELLES DIZ QUE BRASIL ADOTARÁ MEDIDAS ADICIONAIS, na página 32