Título: Economistas consideram acertado o estudo de medidas de ajuste pelo BC
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 28/01/2008, Economia, p. 20

Já conselho do FMI, de gastar mais, não se aplica ao Brasil, garantem.

SÃO PAULO, RIO e BRASÍLIA. A intenção do presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, de estudar novas medidas de ajuste e controle do setor financeiro a fim de prevenir problemas decorrentes da crise das hipotecas de alto risco (subprime) nos Estados Unidos é acertada e muito bem-vinda, na avaliação de economistas. Para Carlos Langoni, diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getulio Vargas (FGV) e ex-presidente do BC, mesmo que preventivas, tais medidas são muito importantes em face da velocidade com que as operações de crédito vêm crescendo no país.

- Ajustar a base de capital, as provisões, os controles e as informações sobre endividamento é se preparar para um mundo em que o crédito privado vai cada vez mais ocupar espaço no portfólio dos bancos brasileiros, ao contrário de antes, quando o sistema financeiro se concentrava no financiamento do déficit público - disse.

O economista e ex-diretor do BC Carlos Tadeu de Freitas, como Langoni, lembrou que, diferentemente dos EUA, no Brasil as regras "estão bem feitas", o BC tem sido bastante prudente e os bancos, principalmente os grandes, estão muito capitalizados. Por isso, ele acredita que as medidas mencionadas por Meirelles sábado, no Fórum Econômico Mundial, em Davos, seriam "regulatórias preventivas".

- Seria para minimizar o risco operacional, pois hoje somos até prudentes demais. Mas esse capital prudencial ajuda em momentos difíceis - disse Freitas.

Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, disse ver nas medidas citadas por Meirelles um movimento de antecipação do BC ao crescimento do crédito no país. O que, a seu ver, é muito prudente:

- Não há problema hoje, mas se acontecer lá na frente, estará minimizado.

Afrouxamento fiscal serviria para EUA e Europa

Se há consenso sobre a iniciativa do BC, os economistas divergem sobre a recomendação, também feita sábado, em Davos, pelo diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn. Ele disse que alguns países deveriam afrouxar suas políticas fiscais como forma de minimizar os efeitos da crise americana, que classificou de "muito séria". Langoni entende que a sugestão foi endereçada principalmente aos EUA, cuja economia deve sofrer forte desaceleração este ano.

- A combinação de afrouxamento monetário e fiscal, conduzida na época por Alan Greenspan, conseguiu evitar uma recessão profunda nos EUA em 2001 - afirmou.

Para o economista e especialista em contas públicas Raul Velloso, o aumento de gastos para uma economia em depressão é uma medida correta. Especialmente num momento em que os bancos dos EUA precisam de ajuda:

- Assim como tivemos nosso Proer, eles também precisam de algo semelhante.

Já Agostini considera que a receita do FMI se aplica principalmente aos países da Europa. Freitas acrescentou Chile e México como economias em condições de adotar uma política fiscal menos restritiva.

Todos concordam, no entanto, que em hipótese alguma a sugestão de Strauss-Kahn serviria para o Brasil.

- É totalmente sem lógica pensar no afrouxamento da política fiscal no Brasil - resumiu Velloso.