Título: Brasil perde a auto-suficiência em petróleo
Autor: Rangel, Juliana
Fonte: O Globo, 07/02/2008, Economia, p. 26

Com o atraso em plataformas da Petrobras, país importou mais que exportou no ano passado, diz especialista.

Depois de comemorar o alcance da auto-suficiência na produção de petróleo em 2006, o Brasil voltou a depender da importação de ao menos 6,6 milhões de barris - ou 17,9 mil por dia - para suprir o consumo nacional no ano passado. Segundo dados consolidados da Agência Nacional do Petróleo (ANP), o país importou 160,33 milhões de barris de petróleo em 2007, enquanto exportou 153,813 milhões.

Na avaliação do consultor Arlindo Charbel, da Organização Nacional da Indústria do Petróleo (Onip), a perda do marco está atribuída ao aumento do consumo, somado ao atraso da entrada em operação de três plataformas da Petrobras: P-54 e P-52, em Roncador, e FPSO Cidade de Vitória, no campo de Golfinho.

Situação é temporária, afirma especialista

Para Charbel, a situação deverá se normalizar em 2008.

- Quando essas três plataformas estiverem produzindo a plena capacidade, teremos mais 460 mil barris por dia, no segundo semestre. Em 15 dias, teremos 6,9 milhões de barris, quantia que já supera o total importado em 2007. A perda da auto-suficiência é temporária - afirmou o especialista.

A Petrobras informou, por e-mail, que a definição de auto-suficiência utilizada na época do anúncio é "a disponibilidade de petróleo produzido nos campos nacionais, em volume igual ou superior ao que pode ser processado nas refinarias do país, de forma a atender à demanda do mercado".

Dados da ANP mostram que a produção brasileira, que inclui cerca de 40 mil barris diários de outras empresas, foi de 638,018 milhões de barris em 2007, ou 1,747 milhão de barris por dia. Em 2006, a Petrobras estimava um consumo de 1,8 milhão de barris por dia.

- Desde então, o país cresceu e a produção não acompanhou. Apenas o consumo de derivados, responsáveis por 80% da destinação do petróleo, subiu 7,3%. Teríamos, então, um consumo atual em torno de 1,94 milhão de barris diários, superior ao volume produzido - calcula Charbel.

Para o gerente de Política Energética do Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP), Felipe Dias, o Brasil sempre terá que importar petróleo:

- Temos que exportar o excedente e importar o óleo dentro da especificação que precisamos para refinar. Mas o que aconteceu foi que a curva de produção passou a de consumo e depois se estabilizou abaixo dela. Por isso, a conta final do ano não fechou.

Na balança de derivados, o superávit foi mantido, com saldo de 11,387 milhões de barris. Em termos financeiros, o país também registrou déficit. A balança comercial de óleo e derivados registrou um saldo negativo de US$2,33 bilhões, contra US$740 milhões no ano passado.