Título: Desvio de verba no Ibama de Goiás chega a R$1 milhão, diz procurador
Autor: Jungblut, Cristiane; Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 26/02/2008, O País, p. 8

MP pede o seqüestro de bens e o bloqueio de contas bancárias de 11 envolvidos.

GOIÂNIA. O Ministério Público Federal (MPF) em Goiás pediu ontem à Justiça Federal o seqüestro dos bens móveis e imóveis e o bloqueio de contas bancárias de 11 pessoas que teriam sido beneficiadas com o desvio de cerca de R$1 milhão do Ibama em Goiás. A investigação começou após a descoberta de que a servidora Marina de Fátima Piau Ferreira, que trabalhava no setor financeiro do Ibama, gastou R$23.300 do órgão numa clínica de estética e massagens em Goiânia.

- Achamos que esse tipo de fraude pode ocorrer em órgãos de todo o país - disse o procurador Claudio Drewes.

O procurador pediu à Polícia Federal a abertura de um inquérito e vai requerer a prisão preventiva da servidora e dos 11 beneficiados, incluindo a dona da clínica Ângela Karina Centro de Estética, a esteticista Ângela Maria da Silva. A servidora está de férias e não foi localizada. Segundo o procurador, o MPF investiga se os envolvidos foram coniventes com a fraude.

- Como a maioria é parente ou amigo da servidora, achamos que foram beneficiados diretamente ou usados como laranjas - disse o procurador.

A servidora teria usado o sistema de liberação de verbas para desviar dinheiro público. Segundo uma auditoria interna do Ibama de Goiás, o esquema existia há oito anos. Maria de Fátima falsificava projetos ambientais para desviar o dinheiro. Algumas despesas estão registradas no Portal da Transparência da Controladoria Geral da União (CGU).

Segundo o Ibama, os saques feitos pela servidora eram rotineiros e em valores baixos, para não chamar a atenção. Os gastos geralmente eram atrelados a projetos aprovados pelo órgão. Na clínica de estética, a despesa foi relacionada a um programa de conservação ambiental, recuperação de animais silvestres e apoio administrativo. O Portal da Transparência registra o nome dos projetos com os pagamentos ao centro de estética.

"O rombo pode ser ainda maior", diz procurador

O superintendente do Ibama em Goiás, Ari Soares dos Santos, admitiu que falhas no sistema facilitaram a fraude. Ele disse que a servidora, que trabalhava no órgão há 25 anos, foi afastada. Sua senha de acesso foi cancelada. Segundo ele, a auditoria detectou transferências indevidas para contas particulares de parentes e amigos dela. Os valores foram enviados ao MPF para complementar a investigação.

- O rombo pode ser ainda maior - disse o procurador.

Segundo o Ibama, para a conta do filho, José Ferreira de Araújo Neto, a servidora desviou R$54.597,69. A maior beneficiária teria sido Andréia Ferreira da Silva, com R$249.296,94.

A investigação pode ser ampliada. Em depoimento ao MPF, a esteticista Ângela admitiu que atende servidores de outros órgãos em Goiânia, como o IBGE. E contou que Maria de Fátima comprava pacotes de massagens ou lifting e depositava o dinheiro na conta da clínica. Disse que não via razão para perguntar a origem do dinheiro.