Título: Em ano eleitoral, um pacote social reeditado
Autor: Jungblut, Cristiane; Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 26/02/2008, O País, p. 8

"Não tenho pressa para acabar com o Bolsa Família", diz Lula ao lançar Território da Cidadania, que reúne vários programas

BRASÍLIA. Em ano de eleições municipais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançou ontem, com pompa, o programa Território da Cidadania, que vai beneficiar 958 municípios, só este ano, com um investimento de R$11,3 bilhões. Na prática, o governo está reunindo neste novo programa 135 ações já existentes em 19 ministérios, batizando-as com novo nome. Será executado em parceria com estados e municípios. Lula disse que o programa será o segundo passo para acabar com a pobreza no país, apontando o Bolsa Família como o primeiro.

Em resposta aos que acusam o governo de adotar programas assistencialistas, o presidente defendeu o Bolsa Família e disse que não tem pressa para acabar com o programa.

Devido ao calendário eleitoral, o governo terá que correr para firmar parcerias com os municípios beneficiados, nas áreas rurais e nos grotões. Segundo o Ministério do Desenvolvimento Agrário, que vai coordenar o Território da Cidadania, o programa só começará a ser executado em abril. A partir de julho - 90 dias antes das eleições - não poderão ser firmados novos convênios e efetuados novos repasses; apenas o que já estava previamente acertado. Ao se dirigir ao ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, Lula o alertou sobre as críticas:

- Você não vai gostar de algumas críticas de que não vai dar certo. Estamos acostumados. Quando as coisas dão errado, a culpa é do governo. Quando dão certo, é da sorte. É uma coisa meio inacreditável. Essa política que o Cassel anunciou aqui posso dizer a vocês que é o segundo grande passo para a gente acabar com a pobreza.

Pouco depois, o ministro Cassel negou o caráter eleitoreiro do programa:

- O programa estava pronto para ser lançado. Não se pode parar de se combater a pobreza porque é um ano eleitoral. Não é um programa fácil de construir. Misturar com pauta eleitoral acho que é mesquinho.

O programa, segundo Lula, combina políticas sociais e oportunidades para o desenvolvimento do campo:

- Esse é o grande programa que pode fazer com que muita gente que hoje recebe o Bolsa Família, que não tem outra possibilidade de renda, comece a encontrar não a porta de saída. A impressão que eu tenho é que tem gente com fobia para acabar logo o Bolsa Família. Não tenho pressa para acabar com o Bolsa Família. O Bolsa Família vai acabar no dia em que a sociedade brasileira, junto com todos nós, conseguir construir as políticas de distribuição de renda para que o povo não precise mais dessa política do governo.

Em 2007, o Orçamento previa R$15,8 bilhões para o Bolsa Família; na proposta de Orçamento de 2008, enviada ao Congresso, o montante subiu para R$18 bilhões.

O novo programa foi lançando no Palácio do Planalto e transmitido ao vivo para todo país. Nas regiões onde o programa será desenvolvido, agentes públicos e pessoas da comunidade se reuniram para assistir à solenidade. O programa reúne ações como o Pronaf (Programa Nacional de Agricultura Familiar) e o Luz para Todos, destinado à área rural, além do atendimento de 2,5 milhões de famílias beneficiadas pelo Bolsa Família na área rural.

Dirigindo-se novamente a Cassel, Lula disse que os ministros não devem temer viajar para mostrar seus projetos. Afirmou que, para felicidade da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), a agenda desta semana inclui lançamentos de obras do PAC pelo Brasil. E disse que levará Dilma, um dos nomes do PT para a sucessão presidencial, ao lançamento do PACFavelas, no Rio, dia 7.

Ao anunciar que enviará ao Congresso uma proposta de reforma tributária, Lula disse que o chamado Custo Brasil não é pressionado pela carga de impostos, mas pela pobreza:

- Estou tão convencido de que o maior Custo Brasil que temos não são os impostos que se cobram neste país. O maior custo Brasil que nós temos foi um século de esquecimento do povo pobre, sendo tratado como cidadão de segunda categoria.

Lula admitiu que o governo descobriu 1,7 milhão de pessoas excluídas das metas fixadas pelo Luz para Todos. Mas disse que o programa vai atingir mais 2 milhões de famílias até 2010. O lançamento do Territórios da Cidadania foi prestigiado por nove governadores, incluindo o tucano Teotonio Vilela Filho, de Alagoas.