Título: Lorenzetti se recusa a falar sobre origem de dinheiro de aloprados
Autor: Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 06/03/2008, O País, p. 4

À CPI, ex-diretor de ONG nega tráfico de influência para garantir recursos.

BRASÍLIA. A tentativa de políticos de oposição de reabrir, na CPI das ONGs, as investigações sobre o chamado dossiê dos aloprados esbarrou na resistência do ex-diretor da Unitrabalho Jorge Lorenzetti. Um dos líderes do grupo acusado de negociar o dossiê contra tucanos na campanha eleitoral de 2006, Lorenzetti se recusou a falar ontem sobre a origem do R$1,7 milhão que seria usado na compra do dossiê. Pressionado por tucanos e democratas, declarou que tudo o que tinha para falar sobre o assunto já estava registrado em depoimento à Polícia Federal.

- No relatório final da Polícia Federal eu fui isentado de qualquer relação com isso (o dinheiro do dossiê) - disse, em resposta a perguntas do líder do DEM, José Agripino (RN).

A pergunta do senador sobre a origem do dinheiro irritou o colega Sibá Machado (PT-AC). Para Sibá, Agripino estaria desviando o foco da comissão, que é investigar irregularidades em ONGs, e não o caso do dossiê. O petista até pediu ao presidente da comissão, Raymundo Colombo (DEM-SC), o veto a perguntas sobre o dossiê, mas o protesto não teve acolhida. Os senadores Heráclito Fortes (DEM-PI), Arthur Virgílio (PSDB-AM), Sérgio Guerra (PSDB-PE) e Álvaro Dias (PSDB-PA) também insistiram, sem sucesso, para que Lorenzetti desse alguma pista sobre a fonte de pagamento do dossiê.

- Confirmo o meu depoimento à PF - repetia Lorenzetti.

Unitrabalho recebeu R$14,5 milhões do governo

No depoimento, o ex-diretor da Unitrabalho não menciona a origem do R$1,7 milhão apreendido pela PF em 15 de setembro de 2006, com dois emissários do PT, hospedados num hotel em São Paulo para comprar o dossiê contra políticos tucanos. Lorenzetti também negou que tenha usado de tráfico de influência para garantir aporte de recursos para a Unitrabalho e para a Amafruta, duas ONGs em que teve forte atuação antes do escândalo do dossiê. A Unitrabalho recebeu R$14,5 milhões desde o início do governo Lula.

A Amafruta foi contemplada com um empréstimo do Banco da Amazônia no valor de R$20 milhões e repasses do Ministério do Desenvolvimento Agrário da ordem de R$15 milhões, segundo dados do senador Álvaro Dias. Para o senador, o aporte desses recursos é resultado dos laços de amizade de Lorenzetti com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com os principais dirigentes do PT. Lorenzetti negou que tenha usado de seu prestígio político para angariar recursos para as duas ONGs.

- Há um enorme exagero na nossa influência. Nunca confundi amizade com qualquer pedido - disse.

As explicações de Lorenzetti não convenceram os parlamentares de oposição. Na próxima quinta-feira, a CPI deverá aprovar o pedido de quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico do ex-sindicalista. Os documentos já estão nos arquivos da CPI dos Sanguessugas.

- Ele (Lorenzetti) não respondeu a várias perguntas. Por exemplo, não explicou de onde saiu o dinheiro do dossiê. Essa é uma questão importante que tem que ser esclarecida - reclamou Agripino.