Título: PMDB pressiona governo por cargos na Infraero
Autor: Pereira, Daniel
Fonte: Correio Braziliense, 01/05/2009, Política, p. 4

Recado dos peemedebistas foi repassado a Múcio e Dilma: presidente da estatal sai da função ou mantém na empresa os indicados do partido

Eduardo Alves (d), líder peemedebista: gestão na Infraero atingiu aliados de caciques do PMDB Detentor das maiores bancadas da Câmara e do Senado, o PMDB quer a demissão do presidente da Infraero, brigadeiro Cleonilson Nicácio da Silva. Ou, pelo menos, que ele assuma o compromisso de manter em cargos da estatal pessoas indicadas por integrantes do partido. O recado foi transmitido na quarta-feira aos ministros da Casa Civil, Dilma Rousseff, e de Relações Institucionais, José Múcio Monteiro. Foi acompanhado de uma ameaça: se o pedido da legenda não for atendido, senadores peemedebistas assinarão o requerimento de instalação de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) destinada a investigar obras sob responsabilidade do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT). O requerimento vagueia pelos corredores do Senado há mais de ano.

O PMDB está indignado com o brigadeiro porque, sob a batuta dele, a Infraero resolveu modernizar sua gestão. Deu-se por meio da aprovação de um novo estatuto, que tenta blindar a empresa de indicações políticas. O novo texto reduziu de 100 para 12 os cargos comissionados ou de livre provimento. Além disso, estabeleceu que quatro das cinco diretorias serão ocupadas necessariamente por funcionários de carreira com pelo menos 10 anos de experiência. As mudanças não eram um problema político enquanto provocavam a demissão de afilhados de peemedebistas do baixo clero. Mas se tornaram motivo de preocupação no governo depois que atingiram aliados dos líderes do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), e do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN).

Jucá considerou um sinal de desprestígio o anúncio da demissão de seu irmão Olavo da Superintendência da Infraero em Pernambuco. Para piorar a situação, outros partidos aliados decidiram fazer coro ao PMDB. Em conversas com Múcio, reclamaram da ¿falta de interlocução¿ com o Palácio do Planalto. Leia-se: da demora para o atendimento de pleitos, como cargos e liberação de emendas. Múcio apresentará o quadro de conflagração ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva no início da próxima semana. Cogita fazê-lo na segunda-feira, durante a reunião da coordenação política. O ministro também está na mira dos senadores. Petistas acusam-no de não ter capacidade para negociar com o Senado. Querem o posto dele.

Reserva Integrantes de outras siglas falam que Múcio age de forma burocrática intencionalmente, a fim de incentivar a operação petista e, assim, ser deslocado para uma vaga no Tribunal de Contas da União (TCU). O ministro nega as duas versões. Para auxiliares do presidente, o problema relacionado à Infraero é sério e de difícil solução. Eles não veem no horizonte a possibilidade de demissão do brigadeiro. E afirmam que o mais provável é esperar pela saída dele da presidência da estatal. Nicácio pretende deixá-la em julho. Se não fizer isso, será passado de forma compulsória para a reserva e não terá condições de suceder o brigadeiro Juniti Saito no comando da Aeronáutica.

Um ministro aposta na troca na chefia da estatal como forma de solucionar o problema. O sucessor, alega ele, assumiria ciente da necessidade de combinar a profissionalização da gestão com o tempero político. ¿O brigadeiro promoveu uma mudança radical demais. Tem de haver uma transição.¿