Título: Lula: comida é desafio
Autor: Schreiber, Mariana; Almeida, Cássia
Fonte: O Globo, 10/05/2008, Economia, p. 39

Presidente vê chance de "revolução agrícola" em Brasil e África

SALVADOR. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a pedir ontem aumento na produção de alimentos para conter a elevação dos preços. Mas, segundo ele, essa alta não pode ser vista como desastrosa.

- Na medida em que começa a melhorar a situação, todos começam a crescer e todo mundo começa a comer, nós temos um problema que eu não acho grave, que é a subida do preço dos alimentos. Mas esse é um desafio, e não pode ser encarado como uma coisa desastrosa para nós, porque, no caso do Brasil, no caso do continente africano, é a chance que nós temos de fazer mais uma revolução agrícola. Nenhum país tem a quantidade de sol, por ano, que tem o Brasil, a quantidade de água, a quantidade de terra agricultável e a quantidade de gente que sabe trabalhar no campo - afirmou Lula em Salvador, depois de visitar, pela manhã, o projeto Gasoduto Sudeste-Nordeste (Gasene), da Petrobras, no município baiano de Catu.

Ele citou como positiva a previsão de uma safra recorde de grãos este ano, divulgada na quinta-feira pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A estimativa é de uma expansão de 7,8% em relação ao ano anterior.

- Portanto, nós poderemos fazer com que, não só o Brasil produza mais... Ontem (quinta-feira) eu tive uma belíssima informação: o Brasil cresceu 8% sobre o ano passado, na safra de grãos, que já tinha sido recorde histórico. Nós, agora, saímos para 142 milhões de toneladas de grãos. Poderemos chegar a 150, 160 ou 180 milhões, mas o importante é que o Brasil, a China, a Índia e outros países utilizem o potencial que têm para ajudar os de baixo a crescerem, ajudar para que haja uma dinâmica no mundo em que, na medida em que os pobres comecem a consumir, os ricos não perderão com isso, os ricos vão vender mais manufaturados. Mas o pobre vai ter emprego, salário, vai virar consumidor, e, portanto, o mundo tende a melhorar - afirmou Lula.

O ritmo de crescimento dos preços, mais intenso no grupo de alimentação, acima do centro da meta de inflação projetada para o ano (4,5%), contribuiu para a elevação de 0,5 ponto percentual da taxa básica de juros, a Selic, no mês passado, de acordo com o Boletim Regional, divulgado ontem pelo Banco Central (BC). O relatório ressaltou ainda que a alta nos preços de alimentos impacta com maior força a cesta de consumo da população mais pobre. A disparada dos alimentos também será tema da V Cúpula de América Latina e Caribe-União Européia, que terá lugar em Lima, capital do Peru, semana que vem.

O presidente voltou a dizer que o Brasil vive um "momento de magia":

- Tem gente que não gosta muito que eu diga, mas o Brasil vive hoje um momento de magia. Tenho dito que nunca trabalhei com idéia de o Brasil crescer 15%, 10% ao ano, como já aconteceu na década de 70. Trabalho para o país crescer 5%, 6%, 4,5% durante um longo período.

Lula disse ainda que China, Índia e Brasil mudaram muito seus perfis econômicos no século XX:

- Ainda não viramos países ricos como Alemanha, Estados Unidos e Japão. Mas a verdade é que nenhuma decisão econômica do mundo é levada em conta sem considerar China, Índia, Brasil, Rússia e outros países importantes. (Com G1)