Título: Para promotor, mudança de versão sobre morte de Dorothy Stang foi paga por Bida
Autor: Brasiliense, Ronaldo
Fonte: O Globo, 14/05/2008, O País, p. 12

Ministério Público do Pará defende outro julgamento para o fazendeiro

BELÉM. O promotor público Edson Souza e o advogado da CPT José Batista Afonso estão coletando indícios e provas documentais para mostrar que Amair Feijoli da Cunha, o Tato ¿ condenado a 18 anos de prisão após ter confessado ter intermediado a contratação do assassinado da missionária Dorothy Stang ¿ , mudou sua versão em vídeo gravado mediante o recebimento de dinheiro. Ele havia afirmado ter contratado o agricultor Rayfran Sales, o Fogoió, para executar a religiosa, a mando do fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida.

O Ministério Público do Pará e a CPT defendem a realização de novo julgamento para Bida, condenado a 30 anos de prisão em primeiro julgamento e inocentando semana passada da acusação de ter sido o mandante da morte de Dorothy, em Anapu, Pará, em fevereiro de 2005. A exibição de vídeo no segundo julgamento foi considerada fundamental para que ele fosse absolvido.

¿ Nossa tese é a de que houve promessa de pagamento para matar irmã Dorothy e pagamento para se conseguir a absolvição mediante mudança nos depoimentos que apontavam Bida como mandante do assassinato ¿ antecipa o advogado José Batista Afonso, da CPT.

O promotor público Edson Cardoso de Souza denunciou, durante o segundo julgamento de Bida, que havia nos autos provas de que Amair da Cunha havia recebido dinheiro dele, embora alegasse que os recursos referiam-se a pagamento pela venda de gado. O MP também está investigando a origem do vídeo em que Tato muda sua primeira versão, na qual se apresentava como intermediário de Bida na contratação do pistoleiro Rayfran Sales, assassino confesso, e inocenta o fazendeiro de qualquer envolvimento.

O vídeo foi feito sem autorização judicial, à revelia do juiz de execuções penais e do juiz do processo. Segundo Afonso, foi feito por uma produtora dos Estados Unidos, não identificada. Ele mostra um suposto advogado, sem procuração nem aval da Justiça para entrar no presídio, conduzindo a nova confissão de Amair inocentando Bida.

O MP suspeita que, como Amair já considerava certa sua condenação, negociou novo depoimento mudando a versão para que o dinheiro de Bida chegasse a seus familiares.