Título: PF: gravação mostra mediação de Paulinho
Autor: Galhardo, Ricardo
Fonte: O Globo, 17/05/2008, O País, p. 14

BNDES liberou R$37,6 milhões para Campinas

SÃO PAULO. Interceptações telefônicas feitas pela Polícia Federal na Operação Santa Teresa mostram que o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (PDT-SP), teria intermediado um encontro entre integrantes da quadrilha acusada de fraudar empréstimos do BNDES e a prefeitura de Campinas. Os grampos federais mostram que a quadrilha acompanhava de perto a negociação de um empréstimo de R$37,6 milhões do BNDES para a construção de um terminal rodoviário na cidade.

Ontem, a bancada do PSOL na Câmara Municipal começou a colher assinaturas para criar uma comissão de investigação com foco na nova rodoviária, que será inaugurada em junho.

No dia 11 de abril, às 9h36m, o lobista João Pedro de Moura, que se apresenta como assessor de Paulinho e está preso desde o dia 24, telefonou para o empresário Marcos Mantovani, dono da consultora Progus, também preso. João Pedro diz que está no gabinete do prefeito de Campinas, Hélio de Oliveira Santos, filiado ao PDT assim como Paulinho, esperando uma audiência "a pedido do Paulinho".

Às 18h52m do mesmo dia, João Pedro liga para Jorge Trevisani, funcionário da Progus, para perguntar se a minuta do contrato entre o BNDES e a Concessionária do Terminal Rodoviário de Campinas (CTRC) estava certa, pois na segunda-feira deveria ser enviada ao banco no Rio. Vinte minutos depois, João Pedro voltou a ligar para Mantovani dizendo que tentava marcar reunião com o vice-presidente do banco, Armando Mariante.

A quadrilha articulava o empréstimo desde 12 de março. Nesse dia foi interceptada ligação de João Pedro para Mantovani na qual falam de "um projeto de interesse do grupo relativo à construção do terminal rodoviário em Campinas".

Deputado, prefeito e concessionária negam

A CTRC negou irregularidade no empréstimo (ainda não aprovado) e relação com a quadrilha. A concessionária confirma que contratou a Progus para elaborar o projeto de financiamento entregue ao BNDES, mas diz que desautorizou a Progus a representá-la assim que soube, pela imprensa, do envolvimento da consultoria em irregularidades.

A prefeitura de Campinas também nega que tenha envolvimento com os acusados.

- É público que o prefeito e Paulinho estão em campos opostos no PDT - disse o chefe de Comunicação da prefeitura, Francisco de Lagos. Segundo ele, João Pedro não foi recebido pelo prefeito naquele dia.

- O prefeito tem por regra não receber lobistas.

O advogado de Paulinho, Antonio Rosella, negou que ele tenha intermediado o encontro. Segundo ele, João Pedro pode ter usado indevidamente o nome do parlamentar.