Título: PT recua e suaviza veto a aliança com PSDB em Minas
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 31/05/2008, O País, p. 9

Após interferência de Lula, partido tenta evitar o racha

Legenda da foto: MARCIO LACERDA, do PSB, participa do encontro do PT

BRASÍLIA. A interferência direta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva levou ontem o diretório nacional do PT a substituir o veto imposto pela executiva nacional por uma recomendação para que o diretório municipal reavalie a aliança com o PSDB e PPS em Belo Horizonte. A sutil mudança, bem à mineira - que evita, num primeiro momento, que qualquer grupo interno do PT seja considerado vitorioso ou derrotado - foi considerada um avanço importante pelos dois principais articuladores da candidatura de Márcio Lacerda, do PSB, à prefeitura de Belo Horizonte: o atual prefeito da cidade, o petista Fernando Pimentel, e o governador de Minas Gerais, o tucano Aécio Neves.

- Foi um avanço no caminho de construirmos uma solução que contemple, por um lado, a política nacional de alianças do partido e, por outro, leve em consideração a vontade da ampla maioria do diretório municipal, preservando assim a unidade do PT - comemorou Pimentel, que sequer participou da reunião em Brasília, tendo em vista que o acordo pela mudança já tinha sido costurado na véspera, numa reunião do antigo Campo Majoritário, do qual ele faz parte.

Diretório Municipal quer apoio só informal do PSDB

Aécio também não escondeu sua satisfação com o primeiro sinal de flexibilização da cúpula petista:

- Foi um avanço, já que o PT saiu do veto para a recomendação. O papel do presidente Lula foi muito importante para essa revisão. Acredito que no final vai prevalecer o bom senso.

Antes de atender ao diretório nacional - que mantém o veto à aliança com o PSDB, mas como recomendação, e não como determinação - o diretório municipal fará uma consulta prévia ao PSB para saber qual a disposição do partido de abrir mão de uma coligação formal com o PSDB e o PPS para ficar só com o PT.

A resposta, no entanto, já é conhecida. O presidente nacional do PSB, o governador pernambucano Eduardo Campos, deixou claro numa conversa quinta-feira com o presidente do PT, o deputado Ricardo Berzoini (SP), que a candidatura de Lacerda - secretário de governo de Aécio - é uma das prioridades de seu partido e, por isso mesmo, não aceitará vetos dos petistas à coligação já negociada na capital mineira. Até porque a saída do PSDB da aliança poderia levar outras legendas a rever seu apoio ao candidato do PSB.

Os tucanos já avisaram ao PSB que não aceitam participar informalmente da coligação em favor da candidatura de Lacerda. Sendo assim, a expectativa dos petistas mineiros é que a direção nacional do partido acabe aceitando a aliança em Belo Horizonte, sob pena de a legenda perder a vaga de vice na chapa e ainda ficar completamente isolado na cidade. Se isso não acontecer, tudo indica que o diretório municipal do PT é que poderá apoiar informalmente o nome de Lacerda.

A despeito do texto claro da resolução de ontem do diretório nacional, Berzoini continua rechaçando a coligação com os tucanos em Belo Horizonte. Ele explicou que foi fechado um acordo com Pimentel, pelo qual os petistas mineiros retiraram ontem o recurso contra a decisão da executiva nacional e assumiram o compromisso de que o diretório municipal vai reavaliar sua posição - na verdade, as partes ganharam tempo para negociar.

- O PT e o PSDB representam projetos distintos e não há possibilidade de haver uma aliança entre os dois partidos numa cidade da importância de Belo Horizonte. Fizemos um acordo e acredito que ele será respeitado - disse Berzoini, reconhecendo que o processo provocou desgastes.

O presidente do PT minimizou a influência de Lula, favorável à aliança mineira:

- As opiniões do presidente Lula são respeitadas, mas a discussão política do diretório é que prevalece.

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