Título: Secretário afastado vai à CPI explicar gravações
Autor: Barros, Higino; Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 09/06/2008, O País, p. 5

DEM discutirá expulsão de vice-governador gaúcho, que gravou conversa com chefe da Casa Civil exonerado.

PORTO ALEGRE e BRASÍLIA. Em meio à crise política no governo da tucana Yeda Crusius, o chefe da Casa Civil demissionário, Cézar Busatto, será ouvido hoje na CPI do Detran. Ele terá de explicar a conversa telefônica na qual afirma que estatais gaúchas financiam campanhas políticas. O diálogo foi gravado pelo vice-governador Paulo Feijó (DEM), adversário político de Yeda, e levado à CPI. Além de Busatto, Yeda aceitou anteontem os pedidos de demissão do secretário-geral de Governo, Delson Martini, do chefe da Representação do Governo do Estado em Brasília, Marcelo Cavalcante, também citados nas investigações da CPI do Detran, e do comandante-geral da Brigada Militar, Nilson Bueno, suspeito de irregularidades administrativas.

Yeda reúne hoje o Conselho Político do governo, formado por partidos aliados, para escolher os substitutos dos exonerados. O vice-governador Paulo Feijó, pivô da crise, prometeu responder hoje a Busatto, que o acusou de traidor por ter gravado um diálogo entre os dois, referente a financiamentos de partidos em campanha eleitorais. Feijó, que está rompido com a governadora, afirmou que não cometeu nenhuma atitude antiética:

- Entendo que estou vice-governador, estava na sala do vice-governador, o assunto era de governo, não particular. Por conseqüência, tudo que é de governo posso gravar. Sou governo. Como não era questão particular, era assunto de governo, tenho direito de registrar.

Para Maia, não se pode combater um erro com outro

Na conversa, Busatto insinua que estatais financiam eleições: "Todos os governadores só chegaram aí (ao poder) com fonte de financiamento ou do Detran ou do Daer (Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem). Quantos anos o Daer sustentou, na época das obras, fortunas, e depois foi o Banrisul".

A direção nacional do DEM manifestou ontem total repúdio à atitude de Feijó. Parlamentares já defendem a expulsão de Feijó, mas o presidente do DEM, Rodrigo Maia (RJ) avisou que isso só será discutido em reunião da Executiva, quarta-feira. Segundo ele, é inaceitável a forma encontrada por Feijó para denunciar a fraude no governo:

- Não se combate algo errado com outro erro. Não podemos compactuar com isso quando criticamos o governo Lula pelo uso da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e da Polícia Federal para perseguir adversários. Se tinha indícios de irregularidade, deveria ter encaminhado aos órgãos responsáveis.

- Não entro no mérito das denúncias, têm que ser investigadas, mas não se faz isso com bisbilhotagem e ilegalidade - disse o senador Heráclito Fortes (PI), que defende a expulsão.