Título: Demanda interna faz país crescer 5,8%
Autor: Almeida, Cássia ; Rodrigues, Luciana
Fonte: O Globo, 11/06/2008, Economia, p. 25
Eleição infla gastos do governo no trimestre
Cássia Almeida, Luciana Rodrigues e Mariana Schreiber
A economia brasileira continuou crescendo forte no primeiro trimestre deste ano, dentro das perspectivas mais otimistas do mercado. A indústria, exibindo a maior taxa desde 2004, e o investimento, há mais de quatro anos em alta, fizeram o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos pelo país) crescer 5,8% de janeiro a março em relação ao mesmo período do ano passado. O percentual foi o mesmo nos últimos 12 meses: 5,8%. Esta taxa é maior dos últimos 12 anos. Perto disso, somente a expansão de 2004, que atingiu 5,7%. Mesmo exibindo números recordes, a economia pisou um pouco no freio em 2008. No quarto trimestre de 2007, o crescimento tinha sido de 6,2%.
- Foi um crescimento totalmente baseado na demanda doméstica. A pequena desaceleração veio da contribuição negativa do setor externo, afetado pelo câmbio valorizado e a greve dos auditores da Receita Federal - disse Rebeca Palis, gerente de Contas Nacionais Trimestrais do IBGE.
As eleições fizeram o consumo do governo ter a maior expansão desde o primeiro trimestre de 2002, também ano eleitoral. Frente ao fim de 2007, o avanço foi de 4,5%. Contra o início do ano passado, 5,8%. Rebeca afirma que as taxas foram puxadas pelos estados e municípios:
- Houve também antecipação de gastos por causa da limitação (lei eleitoral) a partir do segundo semestre.
Indústria: a maior taxa desde 2004
O consumo interno cresceu bem acima do PIB nos últimos 12 meses, o que gerou a alta das importações, reduzindo o saldo comercial do país. Pelas contas do economista Caio Prates, do grupo de Conjuntura da UFRJ, a demanda doméstica avançou 7,7%. O setor externo reduziu a expansão do PIB em 1,9 ponto percentual:
- O lado positivo foi a taxa de 5,8% em 12 meses, reforçando nossa projeção de que a economia crescerá entre 5% e 5,1% este ano. Outro ponto positivo foi o investimento (alta de 15,2%), que vem crescendo acima do PIB.
O IBGE citou o aumento do crédito habitacional, que fez a construção registrar seu melhor momento desde 2004, como um dos fatores a impulsionar o investimento no início do ano. O aumento dos desembolsos do BNDES também foi citado. O crédito farto ajudou a intermediação financeira a ter a maior taxa no trimestre (15,2% frente a 2007).
Mas foi a indústria que levou a economia no primeiro trimestre. A subida foi de 6,9% frente ao mesmo período de 2007, a maior desde o segundo trimestre de 2004 (12,3%). Excluindo a extração de minérios e petróleo, chegou a 7,3%.
Consumo das famílias desacelera
A agropecuária foi o único setor que recuou: 3,5%, frente ao último trimestre de 2007. O desempenho tradicionalmente pior no início do ano uniu-se à queda da produtividade. Isso porque o IBGE mudou a forma de estimar esse setor, incluindo a produtividade no cálculo. A área plantada da soja, por exemplo, cresceu 3%, mas a produção avançou 2,6%.
Ainda exibindo taxas altas, o consumo das famílias, pelo lado das despesas no PIB, cresceu menos. Frente ao fim do ano passado, o avanço se limitou a 0,3%, contra 3,4% registrados nos três últimos meses de 2007. Na comparação com o início do ano passado, a expansão foi de 6,6%, contra 8,6% do fim de 2007.
- É natural acomodação depois de crescimento forte. E os juros futuros começaram a subir em meados de 2007 - diz Prates, da UFRJ.
Para Marcelo Nonnenberg, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), os números mostram economia bem aquecida:
- Na média dos três últimos trimestres, o consumo das famílias cresceu acima de 7%.