Título: Sobre Lula, mas sem incentivos
Autor: Miranda, André
Fonte: O Globo, 13/06/2008, O País, p. 11

Filme só terá verba privada

André Miranda

Nem dinheiro de estatais, nem de leis de incentivo, nem ligação alguma com o governo federal. Pode-se definir assim os três pilares que, dizem seus produtores, serão a base para "Lula, o filho de Lindu", cinebiografia do presidente que o diretor Fábio Barreto vai levar para as telas no fim de 2009, um ano antes da eleição presidencial. No momento, o roteiro está sendo preparado para que as filmagens possam começar no segundo semestre deste ano, mas seus produtores já estão pensando em como fazer captação de recursos sem verba estatal, a principal fonte de patrocínio do cinema brasileiro.

- Estamos depurando o roteiro, que deve ficar pronto até o início de julho. Por enquanto, não há nada definido sobre patrocinadores, e nem mesmo sobre os atores. Ao contrário do que já falaram, ainda não acertamos com o João Miguel para viver o Lula, nem com a Glória Pires para ser a mãe dele - diz Fábio Barreto.

O filme será baseado no livro "Lula, o filho do Brasil", de Denise Paraná. Por trás da produção, está o experiente Luiz Carlos Barreto, pai de Fábio, em associação com Roberto D"Ávilla e Paulo Marinho. A idéia é narrar a história da infância de Lula, de seu nascimento até a morte de sua mãe, Eurídice Ferreira de Mello, a dona Lindu, em 1980. Na ocasião, Lula estava preso e foi liberado pelo então delegado Romeu Tuma para comparecer ao enterro.

- Não é um projeto político, é um projeto sobre a vida dele. Acho que poucas vezes na história da humanidade aconteceu uma trajetória tão humana, de uma pessoa passando por tantas dificuldades - diz D"Ávilla. - Não vai existir dinheiro nem de empresas estatais, e nem de leis de incentivo. Porque, assim, a gente fica livre para fazer o filme que acharmos o melhor, sem dar margem para patrulhas ideológicas. Será a história de uma pessoa que, por acaso, é presidente.

D"Ávilla é diretor da produtora Intervídeo e apresentador do programa "Conexão", exibido pela Rede Brasil e suas afiliadas. São dele as produções de filmes como "O velho, a história de Luiz Carlos Prestes" e "Latitude zero", ambos de Toni Venturi.

Já Paulo Marinho é dono de um escritório de consultoria empresarial. Assim como D"Ávilla, ele entrou no projeto de "Lula, o filho de Lindu" a convite de Barreto. As ligações anteriores do empresário com o cinema, segundo o próprio, foram participações esporádicas em produções dos anos 1980, como "Eu sei que vou te amar", de Arnaldo Jabor.

- Não queremos ter aporte de recursos ligados ao governo. E, por isso, a captação de patrocínio será uma operação de engenharia financeira sofisticada. Não queremos ser acusados amanhã de termos sido patrocinados pelo governo. Algumas empresas já foram contactadas e temos boas possibilidades - diz Marinho.