Título: Acordo amplia em 50% vôos entre Brasil e EUA
Autor: Passos, José Meirelles; Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 28/06/2008, Economia, p. 35

Em julho, número subirá de 105 para 154 rotas semanais de passageiros. Para Snea, americanas se beneficiam

José Meirelles Passos*, Bruno Rosa e Cristina Massari**

WASHINGTON, BRASÍLIA e RIO. A partir do mês que vem, as companhias aéreas brasileiras e americanas poderão aumentar em quase 50% o número de vôos para passageiros entre o Brasil e os EUA, segundo um novo acordo bilateral assinado ontem em Washington. Além de Rio e São Paulo, outras cinco cidades entrarão no circuito. Duas já foram escolhidas: Curitiba e Fortaleza. Os 105 vôos semanais passarão a ser 154 para as empresas de cada país.

O entendimento também vai permitir aumento significativo no transporte aéreo de cargas.

O acordo elimina várias restrições. O número de empresas participantes, por exemplo, passa a ser ilimitado. O acordo vigente previa que apenas quatro companhias aéreas de cada país poderiam operar as rotas entre eles. Daqui por diante, quaisquer firmas poderão participar desse transporte. Também será permitido, pela primeira vez, o code-share (compartilhamento de vôos) entre empresas brasileiras e americanas com companhias de terceiros países interessadas nas rotas entre Brasil e EUA.

- Esse acordo vai ajudar as empresas a satisfazerem a crescente demanda por serviços de passageiros e de carga entre EUA e Brasil. Agora, é crucial que demos às companhias americanas toda a oportunidade possível de competir e ter êxito seja onde for que os passageiros queiram visitar - disse a secretária de Transportes dos EUA, Mary Peters.

A ampliação do acordo não será boa para o país, acredita Ronaldo Jenkins, diretor do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea). Segundo ele, isso vai permitir que apenas as companhias americanas aumentem o número de vôos para o Brasil.

- Dos 105 vôos semanais para os EUA, as empresas brasileiras têm 35. A tendência é que essa participação caia. A medida visa a atender às empresas dos EUA - disse Jenkins.

Hoje, não há vôos diretos entre Rio e Nova York, por exemplo. TAM e American Airlines fazem paradas em São Paulo. A americana Delta faz apenas a rota Rio-Atlanta, sem escalas e conexões.

Este ano, Rio terá vôos diretos para Miami e NY

O professor Respício Espírito Santo, da UFRJ, diz que a melhor alternativa seria o governo brasileiro alugar para as empresas americanas as freqüências que eram de Varig, Transbrasil e Vasp.

Já o vice-presidente de Planejamento e Alianças da TAM, Paulo Castello Branco, não acredita que as empresas americanas coloquem de imediato novos vôos em operação.

- Vamos começar a trabalhar essa movimentação e ver como vai funcionar. A situação hoje é diferente de um ano atrás, quando o preço do barril de petróleo não estava tão alto. A competição é saudável, desde que ocorra em bases iguais.

O executivo disse que a TAM continua seus planos de atuação no mercado americano "colocando vôos de forma rentável". Em 5 de setembro, a companhia vai inaugurar um vôo direto, que será diário e noturno, entre Rio e Miami. E, no fim de outubro, deve inaugurar a ligação direta Rio-Nova York, disse o executivo. Este ano, a American Airlines já estuda a criação de novas rotas, como Miami-Salvador e Recife-Miami.

No setor de cargas, segundo o acordo assinado ontem, o número de vôos semanais aumentará de 24 para 35, imediatamente. A partir de 2010, subirá para 42. Ambos os lados aceitaram aumentar o número de vôos de carga charter (fretados), passando de 750 para mil agora e para 1.250 a partir de 2010.

A delegação brasileira, que passou três dias em Washington, foi liderada pelo diretor da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) Ronaldo Motta. O acordo tem validade de quatro anos. Em 2010, autoridades dos dois países voltarão a discutir uma possível expansão nos serviços. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), responsável pelos acordos bilaterais, não comentou o acordo.