Título: Alstom faz contratos com Metrô-SP e Rio Madeira
Autor: Aggege, Soraya
Fonte: O Globo, 05/07/2008, O País, p. 10

Presidente mundial do grupo diz que a empresa "não está com uma doença vergonhosa" nem paga propinas.

SÃO PAULO. No epicentro de uma investigação internacional, em que é suspeita de patrocinar propinas a servidores públicos, a Alstom fechou dois novos contratos públicos no Brasil, num total de quase R$800 milhões. O maior contrato, de 280 milhões de euros (R$700 milhões), foi firmado com o Metrô de São Paulo. Contratos anteriores da multinacional com a estatal paulista, em governos do PSDB, são foco das investigações na Suíça: de US$45 milhões (R$67,5 milhões) negociados, US$6,8 milhões (R$10 milhões) seriam comissões ilegais. Outro contrato, fechado ontem, prevê parceria da Alstom nas obras da hidrelétrica de Santo Antônio, no Rio Madeira.

O presidente mundial do grupo Alstom, Patrick Kron, veio ao país fechar os contratos e, segundo ele, para dizer que "a Alstom não está com uma doença vergonhosa" nem paga propinas a servidores.

Empresa movimentou um bilhão de euros no país

Kron disse considerar que a assinatura dos contratos, firmados por meio de concorrência do governo paulista, com o Metrô, e por joint venture com a brasileira Bardella, para a hidrelétrica, podem marcar uma mudança da imagem da empresa.

- Essa situação coloca as nossas atividades no Brasil em risco - disse Kron.

A Alstom movimentou no Brasil, em 2007, 1 bilhão de euros (cerca de R$2,5 bilhões), cerca de 50% em exportações a partir do Brasil. Mundialmente, o grupo francês movimentou 16 bilhões de euros, o que torna a base brasileira a sexta colocada no ranking interno de faturamento, segundo Kron, que frisa o fato de o grupo estar instalado no país há quase 50 anos.

- O momento atual da economia brasileira apresenta grandes oportunidades. Há muito não se investia tanto em infra-estrutura, em energia, em transporte, que são nossas principais áreas. Não permitiremos que insinuações publicadas pela imprensa prejudiquem nossos negócios - disse.

O contrato fechado na última quinta-feira prevê o fornecimento do sistema de controle automatizado para as linhas 1, 2 e 3 do Metrô. O projeto prevê a renovação de todo o sistema atual de controle de trens. É o maior projeto de sinalização já conquistado pela Alstom. A entrega do sistema começa em 2010.

- Isso significa que nós investigamos as denúncias, com auditorias independentes, assim como o Metrô, e verificamos que não têm fundamento. Esse contrato significa que nossos parceiros mantêm total confiança em nossa empresa - disse.

Para participar das hidrelétricas do Rio Madeira, em Rondônia, a Alstom Hydro fechou a joint venture com a Bardella, criando a IMMA (Indústria Metalúrgica e Mecânica da Amazônia). A fábrica será instalada em Porto Velho. Para a Santo Antonio, a Alstom fornecerá 19 turbinas do tipo Bulbo (para baixas quedas de água). O projeto integra o consórcio EPC, comandado pela Odebrecht.

O grupo prevê ainda outros investimentos de porte no Brasil. Um dos focos é o trem-bala que deverá ligar Rio e São Paulo, com uma base em Campinas.

- Sem dúvida, vamos participar desse projeto. Nós somos extremamente qualificados. No momento, a bola está no campo das autoridades, que ainda lançarão os editais. Daí, estaremos lá - disse Kron, frisando que o grupo é dono de 70% dos projetos de trens com velocidade superior a 300 quilômetros por hora em todo o mundo.

As denúncias de pagamento de propinas pelo grupo - investigadas no Brasil pelo Ministério Público Federal e Ministério Público de São Paulo, e ainda por promotores da Suíça e da França- foram tratadas por Kron como especulações, que visam apenas atingir a empresa, empenhada em energias renováveis e transportes pouco poluentes, como os trens de alta velocidade. Ele acusou a imprensa de condenar a Alstom, antes que tenha sequer sido denunciada à Justiça em algum dos países.

- Os jornais, a partir do "The Wall Street Journal" (primeiro a denunciar o caso, em maio), usaram de tudo para nos condenar, antes mesmo que fôssemos levados a julgamento. Estão usando de tudo para construir uma teoria - disse, negando pontualmente as suspeitas.

Promotor participará de audiência sobre o caso

O caso continuará sendo investigado no Brasil. O promotor Silvio Marques, que apura as denúncias pelo Ministério Público de São Paulo, participará de audiência na Câmara dos Deputados sobre o caso, segundo o deputado Jilmar Tato (PT-SP).

- O promotor confirmou que houve propina. A promotoria tem documentos da Suíça, contratos de São Paulo e testemunhas. Silvio Marques vai até o Congresso no dia 16 de julho ou 6 de agosto. A empresa, no entanto, continua não colaborando. Há 15 dias esperamos resposta ao convite feito ao presidente da Alstom. Se ele diz que foi condenado sem julgamento, a Câmara é um bom lugar para ele esclarecer- disse Tatto.

- É verdade que não compareci. Mas apenas porque não fui convidado - disse Kron, explicando que o convite de Tatto foi a Aloísio Vasconcelos, presidente da empresa no Brasil até fevereiro.

COLABOROU Tatiana Farah